Selecionei para esta quinta-feira um artigo muito interessante do educador Daniel Ribeiro. Como sou mãe e tenho um filho entrando na adolescência, temas ligados a educação dos jovens, como prepará-los para o mundinho cão onde vivemos, sempre me chamam atenção. E o tema do artigo, crianças e dinheiro, é muito pertinente. Aprendi a calcular as despesas de casa quanto tinha mais ou menos 10 anos. Nessa idade, já sabia ir até a mercearia da esquina comprar víveres e fazer aquela relação básica de custo x benefício. Lembro de uma situação engraçada: fui à padaria com uma tia minha e minha mãe mandou comprar manteiga. Olhei o pote de 250g e outro de 500g e vi, lógico, que o de 500g era mais caro, algo em torno de R$ 1 a mais que o pote menor (na verdade, nem lembro qual era a unidade financeira na ocasião, acho que era cruzado novo…). Mas vi também que havia uma vantagem no pote maior e a reposição de manteiga na despensa demoraria mais para ocorrer. Minha tia chegou em casa orgulhosa, dizendo para minha mãe que eu já era uma mocinha. Exemplos prosaicos e saudades da infância à parte, depois de adulta, tento ensinar ao meu filho o valor do dinheiro e tento dar a ele apenas coisas com as quais possa lidar de acordo com sua idade. Nada de presentes caríssimos. Na minha visão de mundo, por exemplo, uma criança na faixa dos dez anos não precisa de um celular, que na maioria das vezes só servirá para distraí-la da aula ou para colocá-la como alvo de assaltantes. Para a escola, ele leva o valor necessário para o lanche e só. A mesada, nunca é dada em mãos, mas depositada numa conta poupança. Antes de comprar alguma coisa, nós dois conversamos muito, pesamos prós e contras de desfalcar a sua conta em prol de um capricho passageiro ou se é mais vantagem juntar dinheiro para comprar algo realmente bacana. Lógico que não é um regime de quartel, afinal trata-se de um garoto de 12 anos e de vez em quando, permito um capricho, mas o consumo nunca serve de compensação para alegrias ou tristezas. Gosto de moda, de acompanhar novidades e tendências, como fica claro em alguns posts do blog, mas uma coisa interessante que tenho notado é que, quanto mais estudo sobre o mundo fashion e o universo geral da indústria da beleza (cosméticos e etc), mais aprendo a consumir com consciência e mais tento repassar essa lição para o rapazinho que tenho em casa. Ficar bonita para mim é questão de estado de espírito, já disse isso outras vezes. Claro que, todo mundo quer andar na moda, dirigir um carro legal, morar num apartamento bem decorado, mas existe um limite de bom senso e existe uma coisinha chamada planejamento. Dinheiro foi feito para gastar, até porque, quando a gente morre, não leva junto nem a carne ou os ossos, que dirá os bens materiais, mas é sempre bom guardar um pouco para velhice ou as emergências. Mas agora, confiram o artigo de Daniel Ribeiro, porque eu, já falei demais!
*A criança e o valor do dinheiro
**Por Daniel Ribeiro
Em março de 2008, em minha faculdade, um dos principais assuntos abordados foi “matemática financeira para crianças”. É um tema fundamental para ser debatido por pais e professores junto aos pequenos. Uma das grandes dificuldades que os pais encontram no que diz respeito à educação de seus filhos é fazer com que eles entendam o valor do dinheiro. As crianças, que dificilmente se interessam pelo assunto, podem se tornar adultos incapazes de lidar com as próprias finanças.
Diante dessa realidade, procuramos mostrar em nossas teses a importância de se estudar tal assunto e como introduzi-lo junto a nossas crianças. Notamos que a melhor metodologia seria aquela que se utilizasse do lúdico para educar, porém, deixando a criança sempre em contato com a realidade, mostrando que aquele aprendizado será útil durante toda a vida.
Há um momento, por exemplo, em que damos um salário de R$ 1.000,00 para cada aluno. Com o dinheiro, eles terão que pagar suas contas e ainda fazer sobrar para a diversão. Outra técnica para capacitar as crianças a gerir suas finanças pessoais é a divisão do dinheiro em potes. Em cada pote deve ser colocada uma quantidade de cédulas correspondente a cada interesse do aluno. Todo dinheiro que eles recebem, seja a mesada ou um presente da avó, deve ter um destino. Essa é uma maneira de eles se controlarem e não saírem gastando em besteiras das quais se arrependam depois.
Aprender a administrar o orçamento pessoal é um desafio que muitos adultos não conseguem encarar com sucesso, pois, além de responsabilidade e determinação, exige treinamento, por mais banal que uma contabilidade doméstica possa parecer.
Que tal ensinar seus filhos a como lidar com o dinheiro desde os primeiros anos da infância? É claro que não se trata de dar aulas sobre os rudimentos da matemática financeira aos dois anos de idade. Mas, bem cedo, os pais já devem começar a introduzir na vida dos filhos alguns conceitos relacionados ao valor e ao uso de cédulas e moedas, bem como à importância de poupar para o futuro. É um tema cujo interesse vem crescendo no ensino fundamental dos Estados Unidos e dos países da Europa – na Inglaterra virou até matéria obrigatória em muitas escolas. No Brasil, a educação financeira apenas engatinha, e a experiência já colhe bons resultados.
Mesmo sem a matéria no currículo, os pais podem desde já iniciar os pequenos no bê-a -bá financeiro com conceitos bem simples. O primeiro passo é ensiná-los a distinguir aquilo de que precisamos daquilo que simplesmente queremos. Quem não sabe isso se atrapalha. É o caso das pessoas que compram um carro importado antes da casa própria. Uma boa maneira de fazer com que seu filho entenda é tratar desses assuntos em situações cotidianas, deixando-o, por exemplo, responsável por checar quais produtos estão faltando em casa e que precisam ser comprados. Também é fundamental fazer com que a criança associe poupança à precaução, para que entenda que muitas vezes é importante desistir de comprar algo no presente para conseguir um benefício futuro. Quem compreender isso de verdade não terá problemas com cheque especial nem com cartão de crédito mais adiante. Além disso, repetir-lhe idéias simples, como tratar o brinquedo com cuidado para ele estar funcionando quando quiser usá-lo novamente, ou poupar um pedaço do lanche para quando tiver fome, são lembretes que podem ajudar bastante. Dessa maneira, quando essa criança ou adolescente começarem a ganhar mesada, será mais fácil convencê-los da importância de guardar uma parte do dinheiro.
A mesada é uma das principais fontes de dúvidas e equívocos dos pais. Como eles têm muito prazer em satisfazer os desejos dos filhos, acabam errando demais. Mesmo que se trate de uma família de alta renda, não é aconselhável encher o filho de dinheiro.
Também faz parte da educação financeira a dissociação entre dinheiro e afeto, o que significa muita cautela na hora de dar presentes. A recomendação dos especialistas é reservá-los somente para datas comemorativas, como aniversário ou Natal, por mais bem-sucedida que a criança seja na escola ou na atividade esportiva. Prefira outras maneiras de mostrar-lhe reconhecimento, como um passeio em família ou mesmo um abraço e palavras de elogio.
É importante que a garotada aprenda a esperar pela realização de um desejo, mesmo que se trate de algo barato. Se uma criança é acostumada a conseguir tudo o que quer imediatamente, vai se transformar em um adulto sem limites, daqueles que esbanjam, mesmo sem ter dinheiro para pagar um bom plano de previdência privada. O sacrifício dos pais para satisfazer os caprichos materiais dos filhos são pontos negativos. Isso inclui o tão esperado carro aos 18 anos. É preciso mostrar que quem não faz nenhum tipo de esforço financeiro nunca aprende a como chegar lá”.
*Texto encaminhado ao blog pela Ex-Libris Comunicação Integrada
** Daniel Ribeiro é mediador da Vitae Futurekids no Programa Matemática Descomplicada, em Caçapava (SP)