Cronicamente (In)viável: Parem ‘1984’ que eu quero descer…

‘1984’ já foi levado ao cinema duas vezes, por Michael Anderson, em 1956, e por Michael Radford, em 1984. A imagem é da versão dos anos 1980 e mostra o ator John Hurt, que vive Winston, o protagonista da história

O mundo respira ares de Idade Média e o obscurantismo domina o que antes era busca por conhecimento. No Brasil, nas universidades federais, bolsas de pesquisa são cortadas porque a prioridade do atual governo não é a educação, o avanço da ciência ou o estímulo ao pensamento crítico e criativo que fazem as sociedades evoluírem. Cortes na educação infantil tiram, literalmente, a merenda da boca de estudantes pobres. Crianças que, muitas vezes, tinham a refeição da escola como a única do dia. As ciências humanas são execradas, como se a matemática, a física e a química não tivessem também suas origens na capacidade humana de questionar, investigar e experimentar.

Nesse mundo medieval do século XXI, livros didáticos devem ser reescritos porque a história é a mãe da memória e a memória é o impulso que nos torna humanos, críticos, questionadores e capazes de fazer escolhas sensatas. Então, para nos apagar enquanto indivíduos e assim minar as somas que fortalecem as comunidades e suas justas lutas por reconhecimento e respeito, é preciso agir como o ‘Ministério da Verdade’ criado por George Orwell no livro ‘1984’, e distorcer os fatos, fazer a mentira mais deslavada e sem lógica vestir o manto da verdade, que nua, busca abrigo na voz dos poucos humanos de bom senso que ainda restam.

Esse povo que atualmente nos governa detesta o conhecimento, acha inteligência algum tipo de doença e intelectuais seres altamente perigosos e ofensivos. Tanto que preferem dar ouvidos a criaturas perversas que usam o dom da palavra para alienar e não para educar. Gente que prefere jogar as discussões mais sérias no ringue rasteiro dos xingamentos gratuitos, criando polêmicas esdrúxulas que só afundam o país numa lama podre. E há quem aplauda esse circo e coloque caminhões de lenha nessa fogueira.

Gente mesquinha, preconceituosa e tacanha que dissemina na internet boatos infundados sobre vacinas, ressuscita equívocos há muito esclarecidos sobre o formato do planeta e sobre a evolução das espécies, desmerecendo milênios de estudos, pesquisas, observações e esforço intelectual. Porque tudo o que a humanidade é, deve aos indivíduos que, geração após geração, não aceitaram apenas o que seus olhos mostravam e foram em busca de entender as origens e os porquês da vida.

Essas criaturas abissais dessa idade das trevas em que, infelizmente, fomos jogados pelo desvario e os preconceitos de milhões de brasileiros que transformaram seus títulos de eleitor em pistolas calibre .44, servem de ‘gurus’ do apocalipse, perdidos em delírios, seitas e visões do inferno alimentadas por uma pudicícia forjada em desejos recalcados e muita hipocrisia. São seres malignos, que sofrem de deformidades da alma que mil encarnações ainda são poucas para reabilitar.

Nesse mundo de 2019 que parece saído de uma ficção científica distópica, teorias da conspiração substituem o que antes era fato histórico ou constatação científica. Pais e mães desinformados por grupos mal-intencionados de Whatsapp, incapazes de refletir e enxergar para além de suas bolhas, arriscam as vidas de suas crianças e epidemias antes praticamente extintas, renascem com o poder de mutação de vírus cada vez mais letais. Enquanto isso, médicos sanitaristas, cientistas e pesquisadores têm seus alertas desacreditados por correntes de grupos que reúnem desesperados e também os perversos que só querem criar o caos e assistir a miséria se espalhando.

Com os humanos regredindo na mesma proporção em que consomem as últimas reservas do planeta, a religião, nas suas formas mais preconceituosas, ditam muito ódio ao invés de pregar o amor, o respeito e a tolerância que, em tese, deveriam inspirar quem tanto apregoa estar imbuído de fé. Em nome de Deus não só se mata, como também e, principalmente, se aliena os indivíduos.

Por que 1984?

O livro de George Orwell é de 1949. O escritor criou uma fábula ambientada no distante futuro de 1984 (em comparação a 1949), quando os seres humanos viveriam em uma ditadura global, comandada pelo Grande Irmão (Big Brother), sem liberdades individuais ou direitos civis. O livro começa com o mundo dividido unicamente em três super países que se agruparam após uma guerra catastrófica. Esses super países ora brigam entre si, ora se aliam na proporção de dois contra um, ora se fundem como um único império. A inspiração de Orwell é o contexto da Europa após a II Guerra Mundial. Antes do conflito, porém, a Europa foi varrida por uma onda de ultranacionalismo, conservadorismo e autoritarismo. Nos últimos anos, a onda nazi-fascista vem se erguendo de novo e não só no ‘Velho Mundo’.

>>Leia resenha comparativa entre 1984 e Admirável Mundo Novo

Tenho me sentido dentro das páginas de ‘1984’ cada vez que abro o noticiário do dia e não paro de comparar a história do livro com a realidade atual do Brasil e do mundo. Às vezes, as semelhanças são tantas que até assustam.

No Ministério da Verdade, funcionários treinados para obedecer sem questionar são encarregados de reescrever a história do mundo de acordo com as conveniências de quem exerce o poder no momento ou de acordo com os jogos de guerra dos três super países da história. Se a gente pensa nas redes sociais de agora e no compartilhamento de notícias falsas, ou seja, de mentiras vestidas de notícia, e na forma ignorante como as pessoas afirmam essas mentiras como se elas fossem a mais cristalina verdade, a sensação é de que o planeta virou uma das seções do ministério de Orwell.

Em ‘1984’ também somos apresentados ao Ministério do Amor, que existe para torturar física e psicologicamente os indivíduos que não se ajustam ao comando do Grande Irmão. O Ministério do Amor usa a força bruta, quebra o corpo para quebrar o espírito, tal qual a polícia ou as milícias de agora. Cada vez que vejo comentários nas redes sociais de gente pedindo pena de morte ou desejando ter porte de arma, também sinto como se os torturadores desse ministério tivessem escapado das páginas do livro.

Para exercer o controle social dos cidadãos em ‘1984’ há a vigilância das teletelas, aparelhos instalados nas casas que se assemelham a uma televisão e que, além de só passar a programação permitida pelo Grande Irmão, também filma o dia a dia das pessoas e envia os dados para o alto comando. Não existe privacidade no mundo futurista imaginado por George Orwell. Também não existe mais privacidade com a inteligência artificial em smartphones e eletrodomésticos. E a tendência é piorar, até porque, toda uma geração nasceu com as redes sociais borrando as fronteiras entre vida pública e privada.

Mas, o que mais aproxima ‘1984’ do contexto político e social do Brasil e do mundo atual, para mim, é o ‘Dia do Ódio’, um evento que o Grande Irmão promove para que os cidadãos subjugados, humilhados, frustrados e vigiados possam exercitar a violência em sua forma mais primária e brutal. Nesse dia, as pessoas são estimuladas a gritar e dizer ofensas impublicáveis e a machucar umas às outras sem culpa. Mas, obviamente, elas não se voltam contra o Grande Irmão, mas contra vizinhos e contra, claro, o inimigo oculto, o outro, o estrangeiro representado no livro pelos moradores dos outros dois super países.

A crise migratória global e toda a raiva e xenofobia que levam, por exemplo, a atentados como os ocorridos este ano na Nova Zelândia ou no Sri Lanka dão uma ideia do que seria ‘O Dia do Ódio’ da vida real. Os xingamentos e o desprezo, que muitas vezes culmina também em agressão física, de moradores do sul e do sudeste do Brasil contra nortistas e nordestinos também ilustra bem o quanto um governo que legitima o preconceito se assemelha com o Grande Irmão do livro.

E o que fazer para sair desse looping?

O final de ‘1984’ é trágico e pessimista como reza a cartilha das distopias que George Orwell e outros autores anteriores, contemporâneos e que vieram depois dele ajudaram a consolidar e que Black Mirror apresentou à geração Z. Mas, em 2019, resistir é o único recurso para sobreviver à onda de obscurantismo e conservadorismo que ameaça afogar o mundo. E resistir significa muitas coisas, desde ir para a rua protestar até ler e analisar criticamente as informações que chegam. Mesmo com os seres abissais que por agora governam o Brasil querendo nos tirar o direito à educação, é preciso apostar no conhecimento como a única arma que realmente pode nos salvar das trevas.

*Publicado originalmente em mardehistorias.wordpress.com

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Cronicamente (In)viável: Velhinhos ativos e cansados, mas com energia de sobra…ou quase

Chronos, o senhor do tempo

Me entendo por velha antes mesmo de saber-me gente. Criada por mãe e avó com grandes diferenças de idade, a velhice não me assusta por sua existência, mas pelas ausências que ela comporta. Tenho medo de ficar sem memória e de passar a depender dos outros e me agarro a vã esperança de que serei uma idosa independente, estampada de flores e calçada em tênis confortáveis.

Converso com um amigo, um ou dois anos mais novo que eu. Refletimos sobre o que é ser uma pessoa de quarenta e poucos anos no século XXI e o que era ter essa idade algumas décadas atrás. Em geral, não nos sentimos abatidos ou sisudos como eram os quarentões do tempo de nossos avós, embora os amigos de nossos filhos nos chamem de ‘tio’ e ‘tia’. Ao mesmo tempo, sabemos que não somos mais novinhos. “Vivemos uma espécie de maturidade cheia de energia”, filosofa o meu amigo, convencido de que estamos em plena forma.

Outro conhecido, de 54 anos, me confessa que na própria cabeça, ele se imagina com 18. “Mas um cara de 18 responsável!”, enfatiza. Já eu, tem dias que me sinto com 90. A verdade é que, de vez em quando, percebo que me falta energia. Alguns dias mais, outros menos, os quase 45 anos – daqui há 22 dias – pesam e me recordam que os joelhos já não são tão flexíveis. A coluna também cobra a postura torta de uma vida.

Jovens para sempre

Tenho percebido que aquele vigor intenso vendido nos comerciais de Vitamina C anda escasso entre as pessoas da minha geração e até entre as mais jovens, como se elas já nascessem cansadas e precisassem de um banquinho para descansar cada vez mais cedo. Outra amiga, essa com 30, me confidenciou que, ultimamente, só vai em eventos onde tenha lugar para sentar. Ri alto dessa velhinha precoce e lembrei que eu mesma me sinto idosa desde criança.

A sensação de que o tempo passa cada vez mais depressa é real para vários conhecidos. Acordo e a lista de afazeres não cabe no dia. As pausas necessárias para recarregar as baterias são cada vez mais necessárias e escassas. Abrir um tempo para não fazer nada é praticamente recomendação médica para pessoas que andam estressadas, super atarefadas e sentindo-se cansadas quando a velhice ainda nem apontou na esquina da vida.

E as soluções para combater o cansaço são igualmente cansativas, porque o mundo contemporâneo não permite que o tempo da pausa seja apenas para ficar sem fazer nada. É preciso encher a existência com atividades. O que se entende por descanso é só a troca de um cansaço por obrigação, por um cansaço lúdico. Descansamos do trabalho e das demandas obrigatórias em atividades de lazer cada vez mais barulhentas e menos contemplativas.

Ao mesmo tempo, a ideia atualmente em voga para a velhice é a da hiperatividade. Como a expectativa de vida aumentou muito desde que uma pessoa era considerada anciã aos 40 anos, cada vez mais é preciso incutir na humanidade a certeza de uma maturidade cheia de afazeres e disposição.

Comerciais de TV, personagens de ficção, coaches, personal treinares, artistas, etc. vendem a velhice que se disfarça de juventude eterna e, com isso, acredito que existe um lado negativo, que nos faz perder a dimensão de que envelhecer, se por lado traz conhecimentos e experiências acumuladas, por outro significa fragilidade e necessidade de cuidados. E não tem nada de errado em tornar-se frágil depois da vida inteira gastando reservas de força.

Se tem muitos idosos que naturalmente mantém-se ativos e produtivos até depois dos 80 anos, existe também um contingente enorme que se debilita muito mais rápido. E isso vai depender de diversos fatores da vida de cada um.

A meta é ter autonomia, lucidez e independência pelo máximo de tempo possível, mas isso não significa que a existência da velhice deva ser negada e escondida; ou que as palavras ‘velha’ e ‘velho’ sirvam apenas para definir coisas imprestáveis ou ultrapassadas. O tempo é velho, no sentido de infinito, e dele ninguém diz que é imprestável.

A velhice é um estágio da vida. Sempre me recordo de minha mãe dizer que se a gente não morre jovem, envelhece. E ninguém – ou quase ninguém – quer morrer jovem, porque a gente se apega demais à vida. Por mais complexa que ela seja, queremos esticá-la o quanto der.

Com a velhice se instalando – ao menos na teoria – cada vez mais tarde e, consequentemente, a infância, adolescência e juventude se prolongando em ciclos que ultrapassam os 30 anos, cobramos dos mais velhos que mantenham-se eternamente bem dispostos, desrespeitando, muitas vezes, seus ciclos naturais.

O preço do tempo

Tem uma hora que as pessoas vão mesmo envelhecer, que não vai ter plástica, Pilates, suplemento ou meditação que dê jeito. O tempo só avança e nosso corpo, essa máquina que muitas vezes é bem castigada, se desgasta com o uso. Então, é preciso aceitar as limitações da idade sem se sentir um fracasso.

Acredito que meu temor em depender dos outros com o passar dos anos se explica por essa ameaça de termos um mundo cada vez mais povoado por adultos infantilizados e incapazes de aceitar e compreender a velhice e seus limites. Ou mantemos a independência ou teremos de depender de pessoas imaturas e desprovidas de empatia para com as necessidades de uma humanidade cada vez mais velha e, consequentemente, frágil.

O cansaço crônico sentido por gente com até metade da minha idade também pode ser um fenômeno atrelado justamente a essa ideia de velhice hiperativa, que na verdade começa ainda na infância. É tanto estímulo recebido diariamente, nas redes sociais, nas ruas, na escola, no trabalho, no shopping center, etc.; e tanta cobrança para sermos eternamente vigorosos e atuantes – e bem dispostos e lúcidos e ágeis e habilidosos e bonitos e atraentes -, que simplesmente queimamos a pilha mais depressa do que antigamente.

E haja combustível para suprir tanta demanda por movimento!

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*Também publicado no blog Mar de Histórias

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Cronicamente (In)viável: Não fale mal dos gatos perto de mim…e nem fale se estiver longe

Gatos são criaturinhas geniais (Foto: Andreia Santana)

Meu filho costuma dizer que não confia em quem não gosta de gatos. E tem lógica, já que os gatos são animais extremamente sensíveis e que não confiam em qualquer um. Uma amiga, também gateira, afirma que os gatos sabem quando alguém é do bem ou não; e que gente do bem sempre cai nas graças dos felinos.

Não significa que a regra seja universal. A história está aí para provar que muitos ditadores bem maldosos com o povo, amavam seu gatos. Digamos que existe uma tendência de gente bacana atrair essas criaturinhas geniais, mas que gente não tão bacana assim também pode receber sua cota diária de amor felino.

Não lembro onde li – acho que foi minha irmã, gateira de carteirinha desde criança, quem disse – que as pessoas que não gostam de gatos é porque não os conhecem e reproduzem preconceitos do senso comum; ou seja, nunca conviveram com eles e apenas repetem de ‘ouvir falar’.

O que eu sei é que gatos são terapêuticos, amorosos e engraçados. Os gatos da minha família – são cinco, duas irmãs e uma delas, mãe de três – alegram os dias em casa; fazem massagem para espantar o estresse (já acordei várias vezes sendo massageada no plexo solar); ronronam quando alguém da família está doente ou triste; e fazem ‘cambalhota do amor’ (quando os gatos rolam no chão para os seus humanos) e ‘fofinho’ (que alguns gateiros chamam de ‘amassar pãozinho’).

Também nos esperam chegar em casa, nos chamam para brincar e sabem inclusive indicar que brinquedo eles querem que pegue. Geralmente algum cadarço ou pedaço de tecido velhinho com badulaques amarrados nas pontas já os deixam bem felizes. São ainda extremamente curiosos e ‘novidadeiros’, qualquer caixa, pacote ou embrulho rendem mil explorações.

Assim, como acontece com as pessoas, cada um dos cinco gatos da minha família tem uma personalidade diferente e interage com os humanos da casa de uma forma específica. Tem os mais dengosos, os mais reclamões, os meio blazé, os mais obedientes e aqueles bem teimosos. Mas todos sabem expressar um tipo de amor genuíno que nem sempre se encontra nos seres humanos.

‘Essas ideias que você pensa ter tido…’

Não gostar de gatos é compreensível. Assim como é compreensível não gostar de cachorros, de crianças, de sorvete, etc. O que não dá para entender é o tanto de informação equivocada que as pessoas ainda repetem sobre os gatos como se fossem verdades universais e, na maioria das vezes, porque elas ouviram essas mentiras e saíram espalhando o equívoco como se fossem pérolas de sabedoria.

Dia desses, um conhecido me disse que não gostava de gatos porque “gatos são interesseiros e só são carinhosos com os donos para ganhar comida”. É uma variante da frase que ouvi muito na infância, inclusive da boca de pessoas próximas: “que os gatos só gostam da casa e não do dono”.

São frases repetidas a gerações, mas que não fazem o menor sentido. São mentiras moldadas por preconceito. Os gatos gostam sim dos donos, da casa e de conforto. Como qualquer outra animal, inclusive o humano, o gato responde ao ambiente externo, se é bem tratado, retribui, se é maltratado, se retrai, vai embora.

Talvez a cisma de muita gente com os gatos seja justamente porque eles conseguem, mesmo que magoados, seguir em frente. São animais muito dignos. Observe um gato de rua, por mais maltratado e esfarrapado que o bichinho esteja, existe uma aura de honra, de orgulho e de resiliência nele.

Gatos não são submissos, são amorosos. Mas muitos humanos confundem amor e demonstrações de carinho com submissão e por isso, não aceitam um animal altivo e que não se rende. É preciso demonizar esse animal ‘rebelde’ que não faz o que mandam.

Da mesma forma que é preciso queimar na fogueira as mulheres rebeldes, as pessoas questionadoras, livres e insubmissas. Muita gente confunde amor com posse e por isso rejeitam as criaturas que não aceitam ser propriedade…

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*Também publicado no blog Mar de Histórias

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*Cronicamente (In)viável: “Ah, mas as mulheres também…”

“Ah, mas as mulheres também…” Leio essa frase com frequência na internet, em reportagens de sites diversos, em redes sociais ou toda vez que uma conhecida posta críticas ou cobranças direcionadas aos homens. Geralmente, é outro homem que vai lá na caixinha de comentários e começa com “Ah, mas as mulheres também (fazem isso ou aquilo, são assim ou assadas, etc.)”

Me dá impaciência porque é uma estratégia que ainda engana muita gente. Mas, felizmente, cada vez menos mulheres caem nessa tentativa de desviar o foco da discussão. Tirar a atenção dos próprios erros apontando os defeitos alheios não é sinônimo de esperteza, é só imaturidade mesmo.

Homens, com exceções, claro, mas em geral, não gostam de ser criticados e não são muito dados a autoanálise, que dirá autocrítica. Basta alguém, principalmente se for mulher, apontar o dedo para um erro deles, uma atitude que não é bacana – tipo o machismo, que é uma estrutura de poder criada e mantida por e em benefício de determinados homens, de determinado padrão -, e eles já se ressentem, se doem, e buscam formas de desqualificar a queixa: “Ah, mas as mulheres também… blá blá blá”.

A gente sabe, rapazes. Sabemos que também existem mulheres que reproduzem a educação machista que receberam, que existem mulheres que por conta dessa educação equivocada, aprendem até a ser nocivas com outras mulheres. A gente sabe que a educação de meninas e de meninos precisa ser melhorada anos luz para se alcançar a tão sonhada igualdade de direitos. Temos noção de que mães educadas longe do machismo educam filhos solidários e que não vão reproduzir o machismo ad eternum como se fosse norma. A gente sabe de tudo isso e não estamos passando a mão na cabeça de nenhuma mulher.

E sua parcela de responsabilidade?

Mas o foco da queixa está em vocês, nos maiores beneficiários da estrutura machista da sociedade. A queixa está nos pais que deveriam fazer a parte deles na educação dos filhos e filhas. A queixa está nos maridos, namorados e afins que ainda deixam as parceiras batalharem sozinhas para manterem a saúde dos relacionamentos.

Dos erros das mulheres na perpetuação do machismo a gente sabe, agora vocês é que precisam ter consciência e responsabilidade com as falhas de vocês. Não desviem o foco da discussão, apenas melhorem!

Se os homens fizessem um esforço de prestar atenção com mais cuidado, veriam que embora sejam os criadores, mantenedores e beneficiários supremos do machismo, também são muito prejudicados pela sociedade desigual que resulta desse sistema desigual.

As cobranças que eles recebem são pesadas para se comportarem como ‘homens de verdade’, bem sabemos. E esse conceito de ‘homem de verdade’ é todo pontuado por violência e preconceitos. Mas o sofrimento de boa parte dos homens com o machismo não se compara com o que acontece com as mulheres. Elas morrem por conta da estrutura machista e da permissividade do machismo.

Machismo mata, lembrem disso!

Nesse último final de semana de feriado prolongado, de 15 a 19 de novembro de 2018, em pleno século XXI, mulheres foram esfaqueadas por ex-parceiros que não aceitaram o fim dos relacionamentos na Bahia, no Rio, em Minas e em São Paulo. Quatro casos, quatro dias de feriadão, quatro estados diferentes do país!

Isso não é normal, então parem de chamar feminicídio de amor. Feminicídios ainda acontecem porque a estrutura machista da sociedade permite que namorados e maridos acreditem que são donos de suas parceiras! E ser dono das pessoas não tem a menor relação com amor. Amor demanda respeito pela autonomia e pelas vontades da outra pessoa. Feminicídio é crime e é crueldade. É uma doença social grave e deve ser combatido como tal.

Autoanálise e autocrítica é coisa de gente, não tem gênero. Então, os homens precisam admitir que mesmo indiretamente, mesmo quando não levantam a mão para as próprias parceiras, se eles se omitem, se calam ou minimizam qualquer forma de violência contra as mulheres, seja psicológica, verbal, física ou econômica, eles estão sendo coniventes com o machismo que cria assassinos.

Lista enorme de erros

Quem erra e quer redimir o erro, se esforça para entender o contexto do mundo onde vive e busca melhorar a cada dia, nos pequenos e nos grandes gestos. Você deixa sua colega da mesma profissão levar os créditos pelas ideias dela ou as rouba para si? Interrompe mulheres quando elas estão argumentando ou tenta desacreditar o argumento delas com deboche? Você controla o tamanho da saia ou o batom da sua namorada? Você se mete na forma como a sua esposa gasta o dinheiro que ela ganha com o próprio trabalho? Você se faz de surdo quando seus filhos estão traquinando ao invés de ir lá orientar e educar? Você deixa as despesas da casa a cargo da sua parceira enquanto o seu dinheiro vira gadgets descolados? Você não faz a sua parte nas tarefas da casa onde você também mora?

Tem uma lista enorme de atitudes machistas incorporadas na sua educação e que precisam ser modificadas, pense nisso. Para você sua parceira é uma substituta da sua mãe porque você acha normal sua mãe fazer todas as tarefas domésticas porque era assim que seu pai agia? Você trai a sua parceira porque seu pai tinha amantes e você acha que é assim mesmo porque homem não sabe se controlar? Deseduque-se desses equívocos e reeduque-se para ser participativo, solidário, parceiro de verdade da pessoa que está ao seu lado. Chega de reproduzir os enganos das gerações passadas por hábito e conveniência. A intenção é evoluir, se tornar alguém melhor e mais digno.

Comentários desnecessários

Dá trabalho, mas é possível, basta ter boa vontade e persistir nas tentativas de acertar e se esforçar mais e de verdade para mudar, ao invés de choramingar na internet que ‘já não se fazem mais mulheres como antigamente’ ou ‘ hoje em dia os homens não podem mais dizer ou fazer nada que as mulheres criticam’.

Rapazes, parem de entrar em caixas de comentários para dizer “ah, mas as mulheres isso e aquilo” cada vez que alguma garota aponta erros que vocês cometem e olhem com mais atenção para as próprias vidraças, mirem-se nos próprios espelhos sem medo e sem vergonha de admitir que o machismo é feio, injusto e injustificado.

*Também publicado na sessão (Im)paciente Crônica, do blog Mar de Histórias

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Cronicamente (In)viável: as muitas faces da felicidade

Felicidade, tal qual o amor, não tem receita padrão. Dia desses me perguntaram se eu era uma pessoa feliz. Matutei na pergunta e, de cara, pensei em responder que felicidade é um conceito muito amplo e aberto para ser enquadrado nesse ou naquele modelo. Que pessoas com estilos de vida diferentes definem e vivem felicidades diferentes.

Quem perguntou se preocupa comigo, o que por si só, me deixa bastante feliz. Porque nesse caso específico, o interesse é genuíno. A pergunta veio de alguém que eu tenho certeza de que me ama e quer me ver de bem com a vida eternamente, embora isso seja utopia. Reagiria diferente se a pergunta viesse daquele tipo de pessoa que imagina a vida como um ranking e mede seu modelo de felicidade com o dos demais, acreditando-se superior. Mas nenhuma vida vale mais que outra, nenhuma escolha é melhor que outra!

Para esses tipos, não tenho paciência de explicar nada. Já para quem não tem preconceito imbuído na pergunta e só não entende muito bem como funciona ser feliz fora do padrão, para os de coração aberto, explico que: se pode ser feliz estando ou não em um relacionamento; ganhando milhares de reais ou só algumas centenas por mês; morando em arranha-céus ou no apartamento simples de dois quartos; vestindo 38 ou 50; no bar com a turma de amigos ou maratonando séries da Netflix; aos 20, aos 30 e aos 43 (minha idade)…

Felicidade vai e vem

Vale ter em mente que aquilo que nos faz bem é o que também nos trará essa tão sonhada felicidade. Mesmo que seja algo simples como ler um livro ou dormir até mais tarde no dia de folga. E entender que, o que me deixa feliz pode não ter o mesmo efeito em outra pessoa. Porque o estado de felicidade depende de vários fatores, como os valores que alguém cultiva, o que cada pessoa prioriza na vida (o trabalho, a família, o lazer…), o momento que cada um está vivendo, os perrengues que surgem no caminho para resolver, a maneira como se encara os problemas.

A grande tragédia da nossa sociedade é que as pessoas perderam a capacidade de sentir dor e por isso buscam anestesiar qualquer efeito adverso de uma contrariedade. Do hedonismo meio infantil e sem limites aos medicamentos tarja preta, qualquer coisa que entorpeça servirá para que a dor não lateje, não incomode, não atrapalhe o caminho para a felicidade suprema.

Mas é impossível conquistar a felicidade suprema! Em algum momento sentiremos tristeza, teremos algum aborrecimento, ficaremos estressados, precisaremos chorar rios inteiros. Faz parte da vida ter frustrações. Ninguém é 100% feliz ou otimista o tempo todo e quem finge que é, está cavando um poço fundo e perigoso. Alguma coisa sempre vai incomodar e é até importante que esses incômodos apareçam, porque nos fazem rever posturas, retraçar caminhos, nos ajudam a amadurecer.

Expectativas x felicidade

A gente sempre espera alguma coisa. Da vida, do destino, dos outros. Zerar completamente as expectativas e aceitar de bom grado aquilo que chega é um exercício demorado, penoso, requer um grau de desapego que nem todo mundo tem. Uma certa dose de expectativa, honestamente, eu até acho bom que a gente tenha. Porque é uma forma de estímulo para seguirmos em frente, traz uma dose benéfica de esperança.

O que não pode é elevar as expectativas a níveis impossíveis, fechando-se em exigências que não podem ser supridas. Porque daí a esperança dará lugar à amargura e acredito que amargurados não conseguem enxergar a felicidade, mesmo que ela esteja ao alcance do nariz.

Tem fases na vida que parece que o destino testa nossa paciência. Os religiosos dirão que parece que Deus testa nossa fé. Ou então, é porque nesse jogo cósmico do qual fazemos parte, as chances de algo dar certo ou dar errado são iguais. Ou ainda, porque temos uma capacidade absurda para sermos teimosos e insistirmos nas coisas que lá no fundo sabemos que não são boas para nós. E quando elas desandam, botamos a culpa nessa ‘entidade’ chamada destino, ou xingamos Murphy.

O grande jogo da vida

Tem gente que vive um dia de cada vez e improvisa de acordo com a situação. Outros precisam ter tudo esquematizado de forma tão obsessiva, que quando algo sai do trilho, é um deus nos aguda. Outros ainda, entregam a sorte nas mãos do acaso e confiam na “improbabilidade infinita”. Tem até os que sequer acreditam em sorte e acham que tudo é questão de trabalhar duro e merecer. E, por fim, há ainda os que vivem em eterna roleta russa com a vida, o que de certa forma, ao menos para mim, não é bacana.

A grande sacada é perceber que quanto maior for a nossa expectativa, maiores também as chances da frustração ocorrer. E daí que é preciso aos poucos, exercitar o cultivo da gratidão pelo que a vida nos dá. Mesmo quando aquilo que consideramos um presente, não seja grande coisa do ponto de vista alheio. O que vale é o que nós sentimos, não o que os outros querem que a gente sinta.

Acredito que se cada um tentar um exercício de empatia e, de vez em quando, se colocar nos lugares uns dos outros, a visão do que é felicidade vai se expandir bastante e revelar que ela tem muitas faces. E cada um vestirá aquela que lhe der mais conforto e paz de espírito.

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Cronicamente (In)viável: “Meu corpo me pertence. Tire suas mãos de mim”

O corpo feminino ainda é tratado como objeto coletivo

Meu corpo me pertence. Só eu posso autorizar que toquem nele. A frase parece óbvia, mas precisa ser repetida como um mantra. Para que nunca mais nos esqueçamos que quem manda nas nossas vontades somos nós. Para nunca mais termos receio de ser quem somos. Para não cairmos no conto do “é só uma brincadeira”. Porque não é brincadeira. É violência! Para nunca mais sentirmos aquele medo ou a vergonha que nos silencia.

O mantra vale para todo mundo, porque todas as pessoas, independente do gênero, da orientação sexual, do comprimento da roupa, da cor da pele ou do tamanho da conta bancária, têm direito à privacidade e ao respeito. Só que, na maioria esmagadora das situações, são os corpos femininos que são tratados como propriedade coletiva, como coisa pública, objeto sem valor. Então, é fundamental que as mulheres fortaleçam a certeza de que não são culpadas, não são responsáveis pelo descontrole, pela falta de caráter, pelo machismo alheio.

Também na maioria das vezes, a invasão do corpo feminino acontece com os homens avançando o sinal sem permissão para apalpar, violando direitos básicos. Então, vale sugerir que eles pratiquem outra frase: “não devo tocar o corpo de nenhuma mulher sem consentimento”. Talvez, se os homens repetirem à exaustão, absorvam de forma orgânica e consciente a certeza de que todas as mulheres têm direito ao respeito.

Vale também eles praticarem outras verdades, aqui listo algumas sugestões:

“Não sou o dono do corpo e nem da vontade de nenhuma mulher.”

“Nenhuma mulher é obrigada a transar comigo”.

“Nenhuma mulher é obrigada a corresponder meus sentimentos por ela”.

“As mulheres são tão livres quanto eu para escolherem ser e fazer o que quiserem”.

Objetificar é tirar das mulheres as decisões sobre o próprio corpo

Maldição antiga sobre o corpo feminino

A ideia de que os corpos femininos são propriedade masculina é antiga. Vem das origens do patriarcado, quando os homens perceberam que não bastava apenas ter poder sobre a terra, era preciso controlar também a descendência. Vem da ideia equivocada de que o corpo das mulheres é o depósito da semente masculina, que ela nada mais é do que um vaso, sem vontade própria, um ventre oco, que quando semeado, gera um herdeiro, o filho do homem. Assim, mulheres passaram séculos sendo vistas como propriedade, tal qual o gado, o arado, o celereiro de grãos. Só mais um dos itens listados no feudo como pertencentes ao ‘grande senhor’.

Romper com séculos desse equívoco, incentivado inclusive por muitas religiões, é bem difícil, ninguém nega isso. Mas, convenhamos, estamos no século XXI e não no XII. Já passou da hora dos homens admitirem a culpa de perpetuarem o machismo, que nada mais é do que um exercício sórdido de poder. A conversa de que o problema está na ‘educação que eu recebi’ já não convence diante de tantos avanços atuais. Diante da possibilidade real que todas as pessoas têm hoje, graças ao acesso ilimitado a informação, de desconstruir seus preconceitos.

Apenas melhorem, rapazes, parem de inverter a equação. E, uma vez confrontados com seus erros, parem de se colocar na defensiva e culpar seus bisavôs pelos discursos e atitudes que vocês reproduzem por conveniência e por apego aos privilégios.

Ao abusarem dos nossos corpos, a intenção também é quebrar nossos espíritos

O xis da questão

É importante parar de apontar o dedo para as mulheres que reproduzem o discurso machista. Toda mulher é vítima do machismo, mesmo quando ela dissemina mensagens e comportamentos machistas. O que acontece é que toda vez que homens são confrontados com seus erros e a forma perversa e assassina de tratar o feminino, aparece alguém para bradar: ‘mas também existe mulher machista’.

Não existe! Existem é mulheres que não conseguem enxergar a própria opressão. Ou, mesmo quando a enxergam, agem como carcereiras de outras mulheres, repassam a opressão sofrida para as irmãs. E não adianta xingar essas mulheres, é preciso dar a elas os mecanismos que tornem possível que enxerguem com clareza. É um processo de aprendizado e de descoberta.

Esse processo de educação feminina, que para umas acontece mais rápido e para outras mais devagar, não diminui em nada a responsabilidade e a culpa dos homens. Vamos olhar para o lugar certo. Ao invés de tentar encontrar justificativas para culpabilizar as vítimas pelos abusos que elas sofrem; ou de culpar outras mulheres pela manutenção do machismo, vamos olhar para o machismo que mata milhares de nós diariamente no mundo.

Vamos apontar nossos dedos para a direção certa: machismo é criação de homens. É abuso de poder de homens para com mulheres. É majoritariamente violência física, moral e psicológica de homens contra mulheres. É culturalmente disseminado, em primeiro lugar, entre os homens, de pai para filho. Para que não percam o poder absoluto que alguns tem a cara de pau de atribuir à vontade divina! Mesmo quando as mães colaboram, ao educar filhos e filhas de forma diferente, ajudando a manter a crença de que meninas nunca podem e meninos podem tudo, essa mãe não é a inventora e nem o sujeito ativo principal da estrutura machista da sociedade.

Autonomia sobre o próprio corpo não é uma concessão, mas nosso direito

Canalhas não passarão

Nem todo homem comete abuso, mata ou é do tipo machista mais torpe. Mas, ainda assim, os machistas light se beneficiam da estrutura desigual da nossa sociedade. O fato de serem homens, num mundo governado e pensado de e para homens, lhes confere privilégios. Felizmente, existem cada vez mais deles dispostos a exercitar a empatia, a ajudar no combate ao machismo, que como já foi dito muitas vezes, também os oprime.

Mesmo aqueles que inicialmente tentavam colocar-se como protagonistas da luta feminina por igualdade de direitos, falando em nome das mulheres, estão aos poucos entendendo que a participação mais importante deles é na educação dos seus pares. Homens podem ajudar a educar outros caras que ainda desrespeitam e abusam das minas.

Aos canalhas, aos abusivos, aos assassinos, cada vez mais eles perceberão que seu reinado acabou e o que existe agora são os estertores de quem já entendeu que o jogo virou. As mudanças sociais que vêm ocorrendo velozmente em todo o mundo, não têm mais volta. Nenhuma mulher vai voltar ao estágio de submissão, de medo e de vergonha. E juntas, cada vez mais, umas tirarão os grilhões das outras. As reações femininas para cada abuso masculino vão ser em tamanho e força igual à injúria sofrida, porque se tem um outro conceito que muitas de nós já absorveu como uma segunda camada super-protetora de nossos corpos violados, é o de que juntas somos sim muito mais fortes!

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Cronicamente (In)viável: Ciclos de morte e renascimento. Ou, O mito da fênix

“Na mudança, na metamorfose e no caos, a vida se completa”.

Acredito em ciclos. Que a vida é circular, mas não repete-se igual. A frase em destaque, acima, é de um amigo. Um dia, ele leu um dos meus desabafos sobre o eterno desejo de mudança e comentou com essa frase. Vira e mexe, a gente precisa se reinventar e recomeçar do zero. Não é um processo fácil. Requer, além de desapegar do que já não nos serve, a capacidade de se moldar às novas circunstâncias. Resiliência é só uma palavra da moda, dirão alguns. Mas quem cumpre um destino de fênix conhece seu significado nas entrelinhas.

Recordo de uma frase do romance Os versos satânicos, de Salman Rushdie: “Para renascer, é preciso morrer primeiro”. É dita pelo personagem Gibreel Farishta, um ator famoso que vive uma metamorfose após sobreviver a um desastre aéreo. Quantos de nós não enfrenta suas pequenas mortes cotidianas? E precisam juntar as próprias cinzas, aquecê-la e desse montinho disforme renascer?

A fênix era conhecida como Bennu entre os antigos egípcios

Os ciclos de renascimento e o mito da fênix

O mito da fênix, embora atribuído à cultura greco-romana, surgiu no antigo Egito. Depois, foi adotado pelos gregos e, mais tarde, pelos cristãos. Ana Lucia Santana, mestra em Teoria Literária pela Universidade de São Paulo (USP), explica em artigo (leia aqui) que entre os egípcios, a fênix estava associada ao culto de Rá, o deus-sol.

Algumas versões do mito dizem que a ave, que vivia séculos, pressentia a chegada da própria morte e construía uma pira funerária onde se auto-incendiava, renascendo das cinzas do antigo ser. Outra versão diz que a fênix se jogava nas chamas do altar de Rá, na cidade egípcia de Iunu, chamada pelos gregos de Heliópolis (Cidade do Sol).

Para os egípcios, a fênix era o símbolo da imortalidade, sendo ainda associada ao nascer e ao pôr do sol. Para os cristãos, na arte sacra, a ave representa a ressurreição de Cristo.

Os russos chamavam a ave mítica de Pássaro de Fogo

A fênix como avatar dos recomeços

Adotei a fênix como avatar pessoal há alguns anos. Justamente quando enfrentei um ciclo de morte e renascimento. Desde então, recorro ao arquétipo como metáfora pessoal, para lidar com as reviravoltas da vida, com as mudanças repentinas, com as alterações que exigem alta capacidade de adaptação.

Em sua versão mítica, e mais uma vez recorro a Ana Lucia, a fênix é considerada ícone de “esperança, persistência e transformação”. É benéfico para o espírito eleger um símbolo de tamanha força para suportar turbulências.

Nas situações complexas da vida, como recuperar-se de uma doença grave, superar a perda de uma pessoa muito querida ou enfrentar uma mudança de carreira na meia-idade, após, por exemplo, um desemprego involuntário, a ideia de que somos capazes de nos reerguer das quedas mais monumentais, realmente me inspira.

Autodescoberta no ritmo de cada um

Processos de autodescoberta também me estimulam. A cada vez que preciso me incendiar na fogueira da fênix, lembro primeiro de queimar todas aquelas coisas desnecessárias que vão se acumulando na alma, para depois abrir espaço para as verdadeiras transformações. E por mais que a literatura de autoajuda esteja recheada de dicas para “sair de zona de conforto” de forma pasteurizada e nem sempre realista, creio na capacidade humana de adaptar-se e de traçar novas rotas a cada golpe do destino ou empecilho no caminho.

Nenhum estudioso do mito da fênix sabe exatamente quanto tempo após virar cinzas, a ave renascia como um bebê “aberto a eterna novidade do mundo”, parafraseando verso famoso de Fernando Pessoa. Acredito que ela reabria os olhos para a vida de forma lenta e gradual, com profundidade e acúmulo da sabedoria de muitas vidas.

Toda mudança, para ter significado real, não pode ocorrer apenas para demonstrar aos outros “o quão bem sucedidos somos”, mas para nos revelar a beleza da nossa jornada em um universo em eterna transformação…

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*Cronicamente (In)viável é uma série de reflexões sobre ser e estar no mundo, inspirada nas minhas vivências e naquilo que observo ao redor. A série tem irmã gêmea, em outro blog, chamada (Im)paciente Crônica. Quem sabe um dia, transformo as duas em livro…

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Sobre viver confortável na própria pele

Todas as belezas, de todas as cores e tamanhos, merecem o mesmo respeito

Sentir-se confortável com o próprio corpo ainda é um desafio para as mulheres. Com tantos apelos na mídia, tantas receitas ‘milagrosas’, e os padrões que começam a ser construídos desde a infância; para algumas, olhar-se no espelho e gostar do que estão vendo é um exercício constante de construção e manutenção da autoestima. Falo das mulheres porque é sobre elas que ainda pesa a exigência por uma imagem impecável. É delas que ainda se exige que “existam para enfeitar o mundo”. É sobre o corpo feminino que existe toda uma pressão e controle. O que não significa que homens, ou qualquer outra pessoa dos gêneros para além do binarismo homem x mulher, também não sofram com padrões de beleza às vezes impossíveis de alcançar e insensatos.

O esforço diário para a construção e manutenção da autoestima é mais que necessário. E estar confortável na própria pele não significa acomodar-se aos ‘defeitos’. Até porque, onde está o manual que diz que tal característica é de fato um defeito? Pessoas não nascem com manuais e qualquer tentativa de enquadrá-las só serve para disseminar preconceitos e causar angústia. A beleza é uma construção social que se encaixa na cultura de cada época. Isso significa que ela é relativa e que algo considerado muito bonito hoje, pode não ter sido valorizado há vinte ou trinta anos. E vive-versa. E se os padrões de beleza mudam constantemente, porque não podemos fazer um exercício de aceitar todos os padrões? O que significa, de fato, que o bacana é não ter padrão.

Vale tudo sim!
“Será que vão gostar do meu cabelo pink?” “O que importa é que você gosta!”

Foi-se o tempo em que ser ‘diferente’ era algo negativo. Cada vez mais, o mundo – apesar das resistências acirradas de alguns – abre-se para a diversidade. E que coisa maravilhosa é essa tal de diversidade! Que libertador é olhar-se com amor e respeito pela história escrita nas rugas, nos fios brancos, nos quilos a mais ou em um nariz mais largo.

Vale cabelo liso? Vale. Cacheado? Vale. Crespo, volumoso, colorido, descolorido? Sim! Ser careca? Lógico! Ir ao salão toda semana? Se é possível pagar por isso, por que não? Não gostar de fazer as unhas, maquiar-se? O que tem de errado em não fazer as unhas ou pintar o rosto? Ser assíduo na academia e manter uma rotina de alimentação controlada? Se te faz bem, se é por você mesma que está fazendo o esforço de abrir mão do brigadeiro e não porque impuseram regras sobre o seu corpo e o seu existir, então faça seus exercícios e sua dieta e, principalmente seja feliz!

Saudável vestindo XL
“Amiga, tá me achando bochechuda na foto?”  “Que nada, você está linda!”

Vestir GG, XL ou qualquer outro manequim grande e ainda assim ser saudável? A ciência e a medicina estão revisando vários estudos e derrubando mitos sobre a relação peso e saúde. Já caiu por terra, por exemplo, a ideia de que o Índice de Massa Corporal (IMC) é o indicador supremo de que tudo vai bem no organismo. Na verdade, o IMC é só um dos muitos índices que precisam ser checados antes de apontar se uma pessoa considerada gorda é de fato doente. Ou se uma pessoa considerada magra é de fato saudável.

Junto com o IMC, exames precisam comprovar o estado do organismo do indivíduo. Há gordos com taxas de triglicérides, colesterol e glicemia normais e há magros com índices estratosféricos. Nem sempre, um corpo volumoso significa sedentarismo ou um corpo magro significa vida ativa. Nem sempre, um corpo maior é sinal de desleixo ou de voracidade à mesa. Estresse, descompassos hormonais, predisposição genética e uma infinidade de outros fatores podem levar alguém a engordar ou a emagrecer.

Além disso, nunca é demais lembrar que quem faz dieta e pega firme nos halteres de forma consciente e responsável, faz acompanhamento médico e nutricional, se submete a exames de rotina de acordo com as orientações desses profissionais e utiliza os serviços de preparadores físicos, fisioterapeutas, personal trainers, instrutores etc., para evitar lesões musculares e complicações às vezes difíceis de tratar.

E vale ainda lembrar que muitos gordos se exercitam sim, porque fazer exercícios não está diretamente relacionado a emagrecimento, mas a manter o corpo ativo, os músculos e articulações saudáveis para as atividades cotidianas.

Xô, gordofobia!

Saúde nem sempre é sinônimo de um corpo enxuto. A questão é sentir-se bem. E se você está bem internamente e se seu corpo está saudável vestindo 38/40, ótimo! Mas se está saudável e você se sente bem também vestindo 50/52/54…, não deixe ninguém dizer ou te fazer pensar o contrário. Empodere-se!

E aqui, ressalto, não estamos falando de extremos. Ninguém está fazendo apologia a anorexia ou a obesidade extrema. Não é bacana ser internada com desnutrição severa por privar o organismo de nutrientes essenciais à sobrevivência; ou pesando 300 quilos por algum piripaque severo no sistema endócrino. Mas também não é bacana julgar anoréxicos e obesos extremos como se fossem sub-pessoas. Antes de atirar pedras, faça um exercício de empatia e entenda que nesses casos é necessário ajudar porque a vida de alguém pode estar em risco. Mas essa ajuda precisa ser especializada, com tratamento médico e psicológico. E o apoio de quem não é especialista tem de ser oferecer compreensão e suporte emocional. Julgar, reclamar ou fazer pressão psicológica só agrava o problema.

Enfatizo que anorexia nervosa, bulimia, obesidade extrema ou qualquer outro transtorno alimentar requerem intervenções totalmente diferentes de simplesmente achar que toda pessoa que veste tamanhos extras-largos é uma ‘gorda sem força de vontade’ que tem de ser conscientizada porque está ou vai ficar doente se não emagrecer. Muitas vezes, o nosso comentário “bem intencionado” esconde preconceitos, camufla uma horrorosa gordofobia.

Beleza é um estado de espírito
“Acho que vou assumir os meus fios grisalhos” “E eu vou jogar umas mechas azuis no platinado” “Vou de vermelhão, que hoje eu quero causar!”

Gostar de se cuidar, seja da forma física ou da pele, dos cabelos, unhas, etc., é algo muito particular. Algumas pessoas são mais ligadas nessas rotinas de beleza, outras menos. A questão é ter em mente que a beleza precisa vir de dentro para fora e que padrões só servem para criar categorizações excludentes, que isolam e deprimem. Além disso, de nada adiantará ter um ‘corpo do verão’ e um ‘espírito de porco’.

Felizmente, vemos cada vez mais pessoas de todas as cores, todos os tamanhos, todas as idades, gêneros e orientações sexuais estampando capas de revistas, posando para ensaios, escrevendo blogs, postando vídeos cheios de autocuidado, autoestima e boas vibrações no Youtube. Essas iniciativas ainda são gotas no oceano de padronizações que muitas publicações, sites, redes sociais ou  programas de tv vendem como sendo ‘o modelo ideal’. Mas é um avanço e de avanço em avanço, construiremos um mundo decente. Fico feliz em ver que no mosaico das gentes maravilhosas que povoam esse nosso planeta, haverá cada vez mais espaço para as muitas belezas que existem e que ainda vão surgir!

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Mais empatia e menos sorrisos vazios, por favor!

Ser empático é reconhecer as dores e necessidades do outro como se fossem nossas
Ter empatia é reconhecer as dores e necessidades do outro como se fossem nossas

Brasileiro é aquele povo aguerrido e que tem a capacidade de rir de si mesmo e das próprias tragédias, confere? O problema é que segundo pesquisa divulgada em outubro deste ano pela Universidade do Estado do Michigan (EUA), nosso país figura na 51ª posição no ranking que mede o nível de empatia em 63 países. Vi a reportagem sobre a pesquisa essa semana, na Revista AzMina, e não fiquei surpresa. De fato, e a história recente do país está aí para comprovar, uma parte considerável dos brasileiros não consegue colocar-se no lugar do outro. Basta prestar atenção no tanto de preconceito e ódio destilados nas redes sociais. Temos fama de simpáticos, mas simpatia e empatia não são palavras sinônimas, como bem lembrou minha irmã quando conversávamos sobre a pesquisa.

Fiquei pensando nos acidentes de carro e nos engarrafamentos quilométricos que se formam porque as pessoas diminuem a velocidade para olhar os mortos e feridos no asfalto. Ter empatia, nesse caso, seria tirar o carro do caminho para deixar o socorro chegar  a quem necessita, seria não chafurdar no sangue alheio feito vampiros, apenas para saciar uma curiosidade mórbida. Fiquei pensando nas pessoas que fotografam e compartilham imagens de desastres e cenas de violência e maus-tratos no Whatsapp e Facebook. Por mais revoltado que se esteja com uma situação considerada injusta, invadir de tal forma a privacidade de alguém enlutado, ferido ou desesperado não é empatia, é crueldade. Compartilhar essas cenas não é revolta, é desumanidade.

Fiquei também pensando no sensacionalismo carniceiro da cobertura de parte da imprensa. E aqui, mesmo sendo jornalista, é preciso admitir que nem sempre nossos veículos noticiosos agem de forma respeitosa e empática. Infelizmente está virando norma caçar cliques à custa da dor alheia. As mancadas de sites, jornais e telejornais na cobertura da tragédia com a Chapecoense são prova nítida de que muitos profissionais de comunicação precisam reaprender normas básicas da profissão e conceitos essenciais para a vida em sociedade, como o respeito.

Uma parte do público rejeita coberturas toscas e manifesta essa indignação. Portais de notícias fizeram matéria mostrando o apelo dos internautas para que as conhecidos não alimentassem a rede dos carniceiros expondo fotos dos mortos no acidente aéreo. Mas, infelizmente, existe uma quantidade de interessados suficientes na selvageria para explicar, embora não tenha justificativa, a caça por audiência das coberturas sensacionalistas na mídia.

Um passeio rápido pelas caixas de comentários das reportagens que denunciam estupros, violência doméstica ou agressões contra homossexuais, por exemplo, oferecem um panorama bem real das estatísticas da pesquisa norte-americana. Com raras exceções, quase ninguém no nosso país que comenta esse tipo de matéria (não estou falando dos trolls, mas da suposta ‘gente de bem’) consegue se colocar no lugar das vítimas. Sequer consegue imaginar que a situação poderia ocorrer com familiares. As pessoas abrem mão da educação e do bom senso e promovem linchamentos virtuais, destilando crueldade e preconceito.

E a explicação para essa incapacidade de vestir a pele dessas vítimas, ou para respeitar o desespero ou o luto de uma mãe negra e pobre porque seu filho foi morto por policiais, é porque no Brasil existe mesmo, como bem diz a antropóloga ouvida pelas repórteres da AzMina, uma noção equivocada de que nós e a nossa família somos mais dignos e melhores do que aqueles que estão em uma classe social ou possuem etnia, cor de pele, grau de instrução, orientação sexual ou professam credos diferentes dos nossos. A crença na superioridade de alguns ‘eleitos’ em detrimento da ‘ralé’ é a perdição do povo brasileiro.

No dicionário, empatia significa, literalmente, a “capacidade de compreender o sentimento ou a reação de outra pessoa, imaginando-se nas mesmas circunstâncias”. Esse é um exercício que requer esforço, porque necessita de um desapego do próprio ego e a aceitação da realidade de que o mundo não gira em torno do nosso umbigo. Ser empático é ser consciente de que é preciso respeitar as diferenças e criar pontes de compreensão no lugar de muros de intolerância. Empatia pressupõe abrir mão de condenar as atitudes, comportamentos e preferências que não nos dizem respeito, para amparar o outro nas suas necessidades humanas, sem estabelecer critérios além daqueles ditados pela solidariedade.

Filosofia e psicologia explicam:

O termo empatia vem do grego empatheia, formado pelo prefixo ‘en’ (em) + ‘pathos’ (emoção, sentimento). A palavra foi usada pela primeira vez pelo filósofo alemão Theodor Lipps (1851-1914), para explicar a relação entre o artista e o espectador que se auto projeta na obra de arte. Na psicologia, a empatia é definida como uma das inteligências emocionais e é dividida em: cognitiva, quando conseguimos compreender a perspectiva psicológica do outro; e afetiva, quando conseguimos nos emocionar com as experiências alheias como se elas tivessem ocorrido conosco. A empatia também é grande um incentivo para o altruísmo, ou seja, para o amor desinteressado ao próximo, para a generosidade e a preocupação não egoísta com as necessidades de alguém, mesmo que esta pessoa não seja da nossa família. A empatia é o que nos torna humanos.

>>Confira a íntegra da pesquisa no Journal of Cross-Cultural Psychology (texto em inglês, arquivo em pdf)

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Desapegos: já fez a faxina geral de 2016?

Sapo da Sorte / Crédito: Andreia Santana / Blog Conversa de Menina
“Esfreguei o sapo da sorte tailandês e fui fazer minha lista de desapegos”

O mês de dezembro chega com alta carga de ansiedade. É a expectativa pelo ano novo, os preparativos para as confraternizações em família ou no trabalho, as compras de Natal que transformam shoppings em formigueiros humanos, o amigo secreto! Na dúvida, para controlar o estresse inerente a essa época do ano, esfreguei as costas do sapo tailandês da sorte e iniciei a lista de desapegos de 2016. No mundo virtual, alguns amigos fazem aquela faxina, às vezes necessária, na lista de contatos das redes sociais.

Dei uma geral no quarto. Da estante de livros ao guarda-roupas, passando pela sapateira e o revisteiro, a tropa foi inspecionada de A a Z. Roupas apertadas ou folgadas demais e aquelas que já não combinam com meu estilo foram separadas em sacolas para doação, junto com pares de sapatos que estavam sobrando. A pilha de revistas do tamanho do Monte Everest sofreu uma redução considerável, junto com os livros, que passaram por uma triagem rigorosa. Os excedentes de umas e de outros separados para uma biblioteca escolar ou para as caixas de doação de projetos que visam ampliar o acesso a leitura.

No restante da casa, a ordem é desatravancar o máximo possível e abrir caminhos por onde as boas energias possam circular. A norma é passar adiante tudo aquilo que já não representa seus moradores, mas podem fazer a felicidade de alguém; ou que estava quebrado e encostado em um canto roubando espaço. O importante é movimentar a energia, porque só quando a gente desapega do que não nos serve é que a vida nos dá coisas diferentes e na nossa exata medida.

Na esfera dos relacionamentos e dos sentimentos, essa época do ano, que nos deixa mais reflexivos, é um bom período para desapegar de velhas rixas, da sensação desagradável de discussões infundadas (e 2016 foi pródigo em brigas recheadas de insensatez), de rancores, invejas, preconceitos e outras ninharias que só contaminam a alma e azedam a existência.

Na hora da faxina emocional, além de limpar os contatos das redes, é importante também limpar o coração e desapegar daquelas pessoas que nos magoaram. Amigos que se revelaram o exato oposto? Deixe-os ir. Desafetos entre os vizinhos ou colegas de trabalho? Não cozinhe raivas desnecessárias, que só servem para nos adoecer e estragam a pele. Que tal abrir mão daquela pessoa que não combina com você? Nada de ficar refém de amores de perdição, porque não há contrassenso maior do que um amor que nos intimida e faz sofrer. Se está fazendo mal, então não merece o nome de amor.

A regra é abrir mão de toda a bagagem – física ou emocional – que pesa nos ombros, machuca o espírito ou simplesmente ocupa o espaço que você precisa liberar para seguir pela vida mais leve e feliz!

O sapo tailandês da sorte:

O sapo verde, esculpido em madeira, vem com um bastão, também de madeira, que deve ser esfregado nas costas do bicho para simular o som do coaxar. Enquanto a gente esfrega, deve mentalizar desejos ou simplesmente pensar positivo. Este que está na foto, ganhei de presente há alguns anos e fica na estante da minha sala, perto da porta de entrada, para atrair boas energias para a casa. O sapo é símbolo de abundância, prosperidade e fertilidade em muitas culturas. Devido a ser um animal que passa por metamorfose, está associado também a evolução espiritual.

Onde encontrar?

Lojas físicas que comercializam itens esotéricos e na internet, em sites que importam direto da Ásia.

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