Instituto Avon apresenta pesquisa sobre violência doméstica

Seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. Desse total, 63% tomaram alguma atitude, o que demonstra a mobilização de grande parte da sociedade para enfrentar o problema. 27% das mulheres entrevistadas declararam já ter sido vítimas de violência doméstica, enquanto apenas 15% dos homens admitiram ter praticado esse crime.

Esses são alguns dados da pesquisa Instituto Avon/Ipsos – Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, em que 1,8 mil pessoas de cinco regiões brasileiras foram entrevistadas.

Uma das grandes conquistas do estudo é a ampliação do espaço seguro para homens e mulheres se comunicarem, segundo avaliação da especialista em pesquisa de opinião Fátima Pacheco Jordão, conselheira do Instituto Patrícia Galvão, um dos parceiros da Avon na iniciativa: “Uma técnica sofisticada foi utilizada pela primeira vez nas pesquisas sobre violência contra mulheres no Brasil, com o objetivo de obter respostas mais fidedignas para um assunto tão complexo. No capítulo relativo à violência vivenciada por homens e mulheres, os entrevistados preencheram o questionário em sigilo (sem nenhuma indicação de dados pessoais), e o colocaram em um envelope. Dessa forma, evitou-se que o entrevistado se sentisse inibido ou influenciado a dar respostas padrão e aceitas pelo costume”.

59% CONHECEM UMA MULHER QUE SOFREU VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

“Com esse estudo, a Avon e o Instituto Avon esperam contribuir para a reflexão e maior compreensão deste desafio e oferecer subsídios para fundamentar o trabalho dos envolvidos – organismos públicos e privados, associações de bairro, lideranças comunitárias, acadêmicos e leigos – em encontrar saídas para a erradicação da violência doméstica” afirma Luis Felipe Miranda, presidente da Avon Brasil. “Teremos cumprido nossa missão se conseguirmos ampliar a discussão do tema, pautando-a na construção de relações baseadas na cooperação, no respeito e na convivência pacífica.”

62% RECONHECEM VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

“A pesquisa demonstra, com números contundentes, que a percepção de homens e mulheres sobre a gravidade da violência contra a mulher avança na sociedade brasileira. Hoje, 62% da população já reconhece a violência psicológica como uma forma de violência doméstica, por exemplo,” afirma Jacira Melo, do Instituto Patrícia Galvão, ícone na análise da violência doméstica. Os resultados revelam que há ainda um longo trabalho a ser realizado em disseminação de informação, já que os números sobre a percepção da definição do que é violência diferem pouco do estudo anterior.

94% CONHECEM A LEI MARIA DA PENHA e 13% SABEM O SEU CONTEÚDO

Outro parceiro na pesquisa, a Associação Palas Athena, contribuiu com a reflexão sobre a invisibilidade das atitudes violentas no cotidiano, como também preparou uma lista que relaciona diversos recursos à disposição dos interessados no assunto – de livros a organizações e profissionais especializados em tratar os conflitos familiares com ferramentas pacificadoras.

Outros dados importantes do estudo:

* Falta de condições econômicas e preocupação com a criação dos filhos: percebidas como as principais razões para manter as mulheres atadas a um relacionamento abusivo.

* Delegacias e conversa com amigos e familiares: as ajudas que as mulheres mais indicam para as vítimas.

*A maioria das pessoas (60%) pensa que, ao ser denunciado, o agressor vai preso.

A íntegra da pesquisa está disponível no site do Instituto Avon, acesse aqui.

**Material produzido pela assessoria de comunicação da Avon BR.

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Mais mulheres refletindo sobre o machismo – e o racismo – subliminares

*Texto e reflexões de Andreia Santana

Publiquei recentemente lá no meu blog pessoal, o Mar de Histórias, uma resenha sobre a biografia de Lélia Gonzalez, lançada pelo Selo Negro Editorial. Na obra, os autores, Alex Ratts e Flavia Mateus Rios, reconstituem a vida da militância acadêmica, política e social dessa intelectual negra brasileira muito atuante entre os anos 70 e 90, co-fundadora do Movimento Negro Unificado, feminista, politizada, mas com uma capacidade ímpar de manter o foco no ser humano e nos seus paradoxos, sobretudo nas questões raciais (aqui vocês leem a resenha e ficam sabendo mais sobre o livro).

Lélia Gonzalez

Essa semana, pelas estatísticas do Google, vi que um texto meu, escrito em março de 2009 aqui no Conversa, relembrando bell hooks e minhas aulas como ex-aluna especial do mestrado em Letras na UFBA, foi citado por uma blogueira carioca, ex-aluna do famoso colégio Pedro II e bacharel em História, autora do blog …ou barbárie, uma mistura de diário pessoal e acadêmico que ainda estou explorando, mas que à primeira vista, agradou pela força das palavras da autora. A blogueira, num texto sobre a nova campanha publicitária da cerveja Devassa, que viu numa revista carioca, refletia sobre a redução das mulheres, sobretudo às negras, ao corpo (aqui vocês leem o post dela).

Qual a relação de uma coisa com a outra? Bem, é que lendo a biografia da Lélia, vi que muito do que ela refletia – dos paradoxos da questão racial brasileira – tem muita ligação com o texto da autora de …ou barbárie. Sendo que, como Lélia morreu há 16 anos (em 1994), a sensação de que pouca coisa mudou de lá para cá me frustra. Ao mesmo tempo, ver uma pessoa muito mais jovem manter tanto as ideias de Lélia quanto as de bell hooks vivas e sendo discutidas, dá o conforto de acreditar que ainda resta esperança e que campanhas publicitárias machistas e reducionistas como a dessa marca de cerveja tem sobrevida contada…e o tempo está acabando.

bell hooks

Fiz um teste. Busquei no Google referências a “campanha da cerveja Devassa”. Surgiram dezenas de links para uma polêmica envolvendo peça estrelada pela socialite norte-americana Paris Hilton, em março deste ano. Nenhuma referência a uma possível polêmica sobre a campanha denunciada pelo …ou barbárie agora em dezembro. A peça publicitária com Paris, “Bem Loura”, entrou fácil na mira do Conar (ao menos segundo reportagem publicada aqui no site de O Globo). Na campanha nova, a que ainda não está na mira dos órgãos reguladores da propaganda no país, uma modelo negra, com o estereótipo da “mulata Sargenteli”, aparece em pose sensual. Logo abaixo, a frase: “é pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra”.

Paris Hilton em campanha da "Bem Loura"

Acredito que o bom entendedor não precisaria mais do que as meias-palavras do parágrafo acima. Mas em se tratando de machismo e de racismo, meias-palavras nunca bastam. O machismo atinge todas as mulheres, é fato, independente da cor da pele, da grossura do fio do cabelo, da conta bancária. E para manifestar-se, independe de gênero e orientação sexual. Lógico que, aquelas mulheres mais bem nascidas podem sentir menos os efeitos do machismo – fruto de toda uma construção ideológica e cultural de no mínimo dois mil anos -, porque possuem outros mecanismos de defesa. Mas prova de que o machismo é universal é a polêmica envolvendo a loirissima e riquíssima herdeira da cadeia de hoteis Hilton. E por favor, quem quiser tentar me convencer de que a foto acima não é machista, poupe o trabalho, porque como dizia a boa e velha Lélia, minha cabeça já está feita para a questão da relação masculina com o corpo feminino.

Mas, o racismo, esse manifesta-se majoritariamente tendo como alvo as mulheres negras e os estereótipos tão arraigados que se construíram a partir da redução do negro ao corpo. A autora de …ou barbárie filosofa sobre essa questão tendo por base estudos de mulheres como bell hooks e Lélia Gonzalez. Não digo com isso que mulheres índias não sofram preconceito (e é sempre bom lembrar que os portugueses chamavam aos índios de “negros da terra” durante a colonização). Resumo da ópera: o machismo e o racismo vão atuar juntos quando falarmos de mulheres não-brancas.

Reprodução da campanha da Devassa publicada em revista de grande circulação. A imagem é do blog ...ou barbárie

Lélia Gonzalez, que mesmo sendo feminista tinha uma leitura crítica do movimento, costumava sempre lembrar que a questão da mulher negra demorou para ser percebida pelas feministas não-negras. Isso porque, é muito fácil defender bandeiras pelos direitos das mulheres, mas a coisa se complica por exemplo quando a mesma mulher feminista mantém na cozinha de sua casa uma mulher negra que, só pela condição social mais baixa já está sofrendo opressão e nesse caso, não só masculina, mas da patroa branca também. É paradoxal e só agora tanto os movimentos feministas quanto aqueles de militância em prol da causa negra começam a acordar para a situação.

A questão é que o racismo tem nuances muito mais sutis do que o machismo, ao menos no Brasil. Por aqui, graças a nossa herança ibérica, sabemos bem que o homem brasileiro – ampliando as fronteiras – o homem latino – é machista na essência. Em maior ou menor grau, variando desde o agressor de mulheres até o carinha descolado que diz ter muitas amigas, mas empomba com “coisinhas” como o tamanho da saia da namorada ou o fato dela querer andar com os cabelos cortados a la joãozinho, “porque mulher para ser mulher precisa ter madeixas de madalena”. Ou então, que apesar de defender o comportamento liberal das mulheres em relação ao sexo, não se furta a jogar pedra nas elisas e geyses da vida. Sendo que aqui nesse setor: o das “vagabundas x moças de respeito”, o machismo também é feminino.

Sargenteli e as mulatas

Com o racismo, a sutiliza ocorre porque quando não é abertamente praticado por entidades que rezam na cartilha da ku klux klan, ele se manifesta veladamente na política de “democracia racial feliz e contente” vendida pelos órgãos de turismo como ideal de Brasil, herança do Estado Novo. Sob o mito da democracia racial, defendem alguns estudiosos da questão no país, esconde-se uma política de anulamento – ou atenuação – da negritude. A “morena brasileira” é sinônimo de mulher caliente, gostosona, permissiva e não-100% negra, leia-se, não inferiorizada. Outros estudiosos mostram o lado oculto da moeda, que a democracia racial que “amorena” o Brasil, também pratica a aniquilação – ou atenuação – da branquitude. Com certeza toda moeda tem dois lados e toda questão tem centenas, mas aqui falamos de opressão e sabemos que no nosso país, quanto mais tinta na pele, maior o grau dela. Os mestiços, como eu mesma, ficamos no centro da fogueira e tentamos encontrar nosso lugar entre dois mundos em colisão. E aqui, vale lembrar, embora o foco do post sejam as mulheres, os homens negros também sofrem tanto o preconceito quanto a redução de sua essência ao corpo e ao mito do negão bem dotado e fogoso. Sem contudo, deixar de ser machista e de em nome da supremacia do macho, oprimir as mulheres negras. Já viram que é tema pra muita conversa não é?

Tia Anastácia e a patroa, dona Benta

Mas, o que quero dizer com este post enorme é que essas questões raciais e de sexo permeiam, via discursos subliminares e entrelinhas, campanhas publicitárias como essa da cerveja, em que tanto a figura da mulher (do feminino) quanto a da negra são reduzidas ao corpo e ao instinto sexual (a serpente do paraíso, aquela que tenta Eva e que leva Adão a perder o juízo). O senso comum acaba deixando de refletir a respeito das propagandas, das novelas, da complexidade de relações entre a patroa e a empregada, porque dá muito trabalho cavar fundo sob tantas camadas, então, a educação formal e aquela recebida em casa, na rua, na comunidade, continuam disseminando esses discursos velados.

Mas, é preciso cavar e debater todos os ângulos desse prisma, esmiuçar e compreender, porque só assim, quando, como dizem os militantes, houver uma “tomada de consciência coletiva”, é que poderemos finalmente usar tanto a bandeira de democracia racial (num país que aceita todas as cores e que não tenta diluir) quanto de gênero (numa aceitação não apenas do macho e fêmea normativos, mas das orientações sexuais que fogem à regra). Folgo em saber que mais gente, como essa blogueira do …ou barbárie, mantém a chama do debate permanentemente acesa.

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Artigo: “Violência contra a mulher”

O artigo da semana escolhido para esta quarta-feira bate numa tecla que as meninas deste blog vivem tocando em alto e bom som: a militância para acabar com a covardia que é a violência contra as mulheres. O texto é da jornalista Marli Gonçalves e reflete sobre os casos mais recentes de violência aqui no Brasil e no resto do mundo (onde ainda se matam mulheres apedrejadas, como há dois mil anos atrás!!). O texto mostra ainda uma história de superação na vida da própria autora, que já viu e sentiu a violência na pele, mas deu a volta por cima. Vale muito a pena ler. No final, tem os contatos da Marli e os links para acessar suas páginas pessoais.

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**Violência contra a mulher: eu me manifesto. E você? Vai ficar olhando?

*Marli Gonçalves

Mulheres apedrejadas, esquartejadas, violentadas, exploradas, baleadas, surradas, torturadas, mutiladas, coagidas, reguladas, censuradas, perseguidas, abandonadas, humilhadas. Até quando a barbaridade inaceitável vai vigorar?

Eu me manifesto, sim, contra tudo que considero inaceitável. E não é de hoje. Desde pequena meto-me em encrencas por causa disso. Uma vez, tinha acho que uns 12 anos, e brincava na portaria do prédio quando ouvi um homem brigando com uma mulher do outro lado da calçada, ameaçando-a de morte, dando-lhe uns sopapos. Não tive dúvidas. Atravessei, entrei pequenina no meio deles, gritando forte por socorro, o que o assustou e fez com que ele parasse as agressões. Para minha surpresa, ao olhar para os lados, vi que havia muitos adultos assistindo à cena, impassíveis.

Nunca me esqueci disso. Inclusive porque, quando voltei para casa, tomei uma bronca daquelas. Atraída pelos meus gritos, minha mãe tinha ido à janela, e assistiu. “E se ele estivesse armado e te matasse?” – ouvi. Creio que respondi que nunca ficaria quieta vendo aquela cena, onde quer que fosse, e que jamais seria resignada. Dentro de minha própria casa já havia assistido a cenas que teriam ido para esse lado, não tivesse sido minha mãe uma guerreira baixinha e desaforada, ela própria vítima de um pai tão violento que não o aceitava nem em sua carteira de identidade, nem em sobrenome. Minha avó materna teria sido morta por um “acidente”, em que um motorista de ônibus, que por ele teria sido pago, acelerou quando ela descia. Caiu, bateu com a cabeça na sarjeta, morrendo horas depois, de hemorragia, na pequena cidade do interior de Minas.

Sakineh Mohammad Ashtiani, condenada a morte por adultério no Irã

Anos depois, senti em minha própria pele o desespero solitário da agressão, da humilhação, do medo. Em plena juventude e viço, em uma ligação amorosa complicada, de paixão e amor intenso que vi virar violência, agressão, loucura e insegurança, só saí viva porque mal ou bem sou de circo, e protegida pelos meus santos e anjos, daqui e do céu… Tentei não envolver ninguém, resolver, e quase virei primeira página policial. Tive a minha vida quase ceifada, ora por ameaça de facadas; ora por canos e barras de ferro, ora pela perda de todas as referências, ora pela coação verbal. Os poucos e únicos amigos que ainda tentaram ajudar também entraram no rol da violência. E os (ex) amigos que viraram as costas, ou faziam-se de cegos, desses também me lembro bem; inclusive de alguns que conseguiam piorar a situação e pareciam gostar disso, insuflando. Ou se calando. Ou me afastando. Deve ser bonito ver o circo pegar fogo.

Desespero solitário, sim. Não há a quem recorrer. Polícia? Apoiam os homens. Delegacia da Mulher? Na época não existia, mas parece que sua existência só atenuou a dimensão do problema, que pode acontecer em qualquer lar, lugar, classe social. Lei? Veja aí a Lei Maria da Penha. Pensava já naquele tempo, meu Deus, e se eu ainda tivesse filhos para proteger, além de mim? Não poderia ter me livrado – concluo ainda hoje, pasma em ver como a situação anda, em pleno Século XXI. Hoje, acredito que curei minhas feridas, que não foram poucas, especialmente as emocionais.

O que choca no caso Eliza Samudio, tanto quanto a violência em si, é o fato de muitas pessoas julgarem o comportamento da vítima, como se isso justificasse a violência que ela sofreu

Há semanas venho tentando defender, aqui do meu cantinho, a libertação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, mais uma das mulheres iranianas cobertas da cabeça aos pés pelo xador, a vestimenta preta que é uma das versões mais radicais do véu muçulmano. Mas esse, a roupa, não é o maior problema dela e de outras iranianas. Viúva, dois filhos, em 2005 Sakineh foi presa pelo regime fundamentalista do Irã. Em 2007, julgada. A pena inicial foram 99 chibatadas. O crime, adultério! Sua pena final, a morte por apedrejamento.

Uma história que lembra a fascinante personagem bíblica de Maria Madalena, a moça que aguardava a morte por apedrejamento até ser salva por Jesus Cristo. Cristo provocou com uma frase que ficou célebre, e revelou-se futurista: “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Esses iranianos estão querendo matar Sakineh e outras a pedradas, e com pedras pequenas, para que sofram mais; talvez porque sejam, acreditam, muito puros? A sharia, lei islâmica, devia prever cortar dedos, língua, furar os olhos desses brucutus modernos, hitlers escondidos sob mantos religiosos, protegidos por petróleo e riquezas?

Não bastasse a novela de Eliza Samudio que, morta ou não, faltou ser chutada igual bola, e de tantas jovens, inclusive adolescentes, mortas pelos namoradinhos, a advogada que morreu no fundo da represa. Todo dia tem violência. No noticiário ou na parede do lado da sua, no andar de baixo, no de cima, na casa da frente.

Cartaz da campanha Basta!, organizada por entidades civis e femininas

Nem bem a semana terminou e outro caso internacional estava na capa da revista Time, com o propósito de pedir a permanência das tropas de ocupação no Afeganistão. Na foto, na capa, a imagem chocante da afegã Aisha, 18 anos, que teve o nariz e as orelhas decepados pelo Talibã. Foi a punição à sua tentativa de fugir de casa, de uma família que a maltratava. Agora, Aisha está guardada em lugar sigiloso, com escolta armada, paga pela ONG Mulheres pelas Mulheres Afegãs. Deve ser submetida a uma cirurgia para a reconstrução do rosto. No Irã, ou melhor, globalmente, porque lá nada se cria, se estabeleceu a campanha “Um Milhão de Assinaturas exigindo mudanças de leis discriminatórias”, com protestos e abaixo-assinados, de grupos internacionais de mulheres e ativistas, organizações de direitos humanos, de universidades e centros acadêmicos e iniciativas de justiça social, que manifestam o apoio às mulheres iranianas para reformar as leis e conseguir o mesmo estatuto dentro do Irã legal do sistema.

O que há? O que está havendo? Mulher é menos importante? A realidade: em cerca de 50 pesquisas do mundo inteiro, de 10% a 50% das mulheres relatam ter sido espancadas ou maltratadas fisicamente de alguma forma por seus parceiros íntimos, em algum momento de suas vidas; 60% das mulheres agredidas no ano anterior à pesquisa o foram mais de uma vez; 20% delas sofreram atos muito fortes de violência mais do que seis vezes. No Brasil, a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos; 20% das mulheres do mundo foram vítimas de abuso sexual na infância; 69% das mulheres já foram agredidas ou violadas. No Nordeste, 20% das mulheres agredidas temem a morte caso rompam a relação; no geral, 1/3 das mulheres agredidas continuam a viver com os seus algozes. E continuam sendo agredidas. É pau, é pedra, é o fim do caminho.

Cartaz de campanha contra a violência

Estudos identificam, ainda, uma lista de “provocadores” de violência: não obedecer ao marido, “responder” ao marido, não ter a comida pronta na hora certa, não cuidar dos filhos ou da casa, questionar o marido sobre dinheiro ou possíveis namoradas, ir a qualquer lugar sem sua permissão, recusar-se a ter relações sexuais ou suspeitar da fidelidade, entre eles.

Até quando ficaremos assistindo a esse filme? Chega. Foi como li a conclamação da amiga e uma das mais respeitáveis profissionais de comunicação do país, Lalá Aranha, em seu Facebook: “Não posso entender como em pleno século XXI as mulheres brasileiras são tão molestadas. Precisamos fazer algo neste sentido. Quem me acompanha?”

Adivinhem quem foi a primeira a responder? Eis, assim, aqui, também, minha primeira contribuição.

*Marli Gonçalves é jornalista, blogueira, escritora, radialista, twitteira e um monte de outras coisas legais.

Para falar com a Marli: [email protected] ou [email protected]

Para ler mais Marli: www.brickmann.com.br e marligo.wordpress.com

**Texto enviado por email e publicado neste blog mediante autorização da autora, desde que citada a autoria e respeitada a integridade do texto.

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Site dá dicas de como educar sem palmadas

O site da revista Crescer preparou um especial chamado Palmada, não! com respostas às dúvidas sobre o novo projeto de lei que proíbe o castigo físico, sugestões de como criar os filhos sem violência física, artigos e enquete. A Lei da Palmada foi encaminhada ao presidente Lula na semana passada e acrescenta um artigo ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que versa sobre os cuidados na infância e adolescência sem castigo corporal ou tratamento cruel.

A ideia do especial da Crescer é mostrar que existem outras formas de educar um filho que não seja usando a didática do chinelo. Segundo psicológos especializados no desenvolvimento infantil, ao contrário do que reza o senso comum, palmada não é educativa. Impor respeito a um filho e junto com o respeito, estabelecer limites, deve ser fruto de diálogo e do exercício de autoridade, mas que essa autoridade não seja ditatorial.

O problema, na minha opinião, é que os pais acabam não exercendo a autoridade e não mostrando para a criança quem é que está no comando, quem é que orienta e quem tem a última palavra nas decisões. Afinal, uma criança não pode decidir por si mesma o que é melhor para ela porque ainda é um ser em formação. O que essa pessoa vai se tornar no futuro é sim responsabilidade total dos pais ou responsáveis por sua criação. A escola ajuda, até oferece um suporte, mas o ônus é dos pais. Com os adolescentes a coisa complica ainda mais, porque nesse caso, é a maturidade que falta a eles para tomarem conta do próprio nariz. M as na hora de negociar, os pais simplesmente acham mais cômodo ceder.Ou então, ainda há os que acreditam que criar filho é pagar boa escola, oferecer conforto material e realizar todos os caprichos da criança ou do adolescente. Ledo engano!

Sempre digo que criar filhos dá trabalho, uma fórmula mágica ninguém tem. Na maioria das vezes é na base da tentativa e acerto. Mas há que se ter responsabilidade na hora de fazer as tentativas, usar o bom-sendo, sempre, e claro, estar aberto a negociação, mas dentro de um limite. Quem estabelece as regras da negociação são os pais, não as crianças. É um exercício de poder mesmo, mas esse poder tem de ser usado com sabedoria, senão vira repressão. A questão principal, ao meu ver, é decidir quanto do seu tempo você pretende entregar ao papel de mãe ou pai, porque filho é tempo integral, não duvide. Mesmo sem abrir mão de carreira, do lazer, dos momentos íntimos e afins, um filho preenche todo o espaço da nossa vida e cada ato passa a ser reflexivamente construído para garantir o bem-estar mínimo dessa criatura que botamos no mundo.

Voltando à reportagm da Crescer, a revista se antecipa às mudanças da Lei da Palmada e explica por exemplo, por que bater não educa? O que a criança sente quando está apanhando? Quais são as conseqüências da palmada para a vida da criança? O site traz ainda um artigo da psicóloga Rita Calegari e uma entrevista com o autor e psicólogo espanhol Guillermo Ballenato. Ou seja, leitura mais que recomendada.

Sobre a Crescer – A revista orienta mães e pais desde que planejam engravidar até que seus filhos completem 8 anos. Sempre traz reportagens intercaladas com histórias de vida e informações de especialistas para falar com os pais que desejam cuidar dos filhos da melhor maneira, sem deixar de lado o relacionamento afetivo, a profissão e a casa. O site Crescer – www.crescer.com.br – segue a mesma linha, com atualizações diárias e apresenta conteúdo seguro sobre temas de gravidez, saúde, nutrição, comportamento, educação e cultura.

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Leia mais no blog sobre a palmada:

>>Um tapinha dói mais do que a gente pensa

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Por que mulheres acham que Eliza mereceu morrer?

*Texto da jornalista Giovanna Castro

Já não aguento mais ouvir os desdobramentos diários na mídia sobre o caso do sumiço da moça Eliza Samudio, que teria sido assassinada com requintes de crueldade pelo ex-goleiro do Flamengo, Bruno, e seus “comparsas”, até onde se sabe a partir da divulgação pela polícia dos depoimentos dos envolvidos. Os fatos que andam surgindo, é bem possível que vocês saibam, ainda que em partes, até porque está sendo praticamente impossível não tomar conhecimento dos detalhes sórdidos da história. O que talvez nem todos tenham prestado atenção, até porque esta reflexão não entra compulsoriamente dentro da casa de cada um pela TV ou pelo rádio, ou pela internet, é o tipo de conversa que vem sendo suscitada nas mesas de restaurante, de bar, nas escolas, residências e ambientes de trabalho, especialmente partindo de mulheres.

O que tenho ouvido me faz ainda mais incrédula em relação à queda das ocorrências de casos de violência contra o sexo feminino. É óbvio que a violência contra as mulheres sempre foi grande e escondida em quatro paredes das residências mais pobres e também das mais abastadas, mas o número de casos segue aumentando e vem sendo descrito pela imprensa em sua cobertura diária.

Eliza Samudio morreu porque ousou exigir seus direitos?

Diante destes fatos, é inadmissível ouvir mulheres reforçando o machismo que envolve este caso, a ponto de justificar o acontecido com argumentos que muitas delas consideram irrefutáveis. Você já deve ter ouvido: ela era garota de programa, fez filmes pornôs, era maria chuteira, transou com o time inteiro do São Paulo, exigia direitos do ex-goleiro, queria lucrar com o golpe da barriga, participava de orgias, ou seja, era mulher “ruim”, “vagabunda”, daquelas em quem não se pode confiar de jeito nenhum e que “mereceu” o que lhe aconteceu. “Jogador de futebol é otário, porque sabe que essas mulheres querem mesmo engravidar e transam sem camisinha, querem mais o quê?”. Essa última, você com certeza já ouviu milhões de vezes.

O estilo de vida de Eliza parece ser condizente com sua história de vida. Não dá pra justificar seus atos pelo fato de ter sido abandonada pela mãe ainda bebê. É claro que cada um faz as suas escolhas na vida e ela poderia ter escolhido outro rumo, que talvez lhe desse outros resultados e outra forma de ver o mundo, mas ela escolheu sobreviver da forma que achou que poderia. Ela lançou mão dos atributos físicos que tinha. Você vai me dizer que algumas modelos e atrizes globais não fazem o mesmo quando posam nuas na Playboy? Qual a diferença então? É porque elas conseguiram romper a barreira do submundo e passaram a aparecer na televisão? A tela da TV anula tudo?

Eliza foi assassinada. Foi vítima de um pensamento machista e psicopata que, por se acreditar acima do bem e do mal, resolve seus “problemas” com violência e força bruta. Em mais uma dessas enigmáticas histórias que o destino nos prega, Bruno também foi abandonado pelos pais ainda bem pequeno. Mas, como ouvi em um programa de TV por esses dias, o fato de ter mais um filho – ele tem duas filhas do casamento com Dayane, que aparentemente também está envolvida no assassinato – poderia ter sido aproveitado como uma forma de se colocar frente a frente com sua própria trajetória de vida que, até ser descoberto o crime, era de superação – afinal de contas, não é qualquer um que sai da miséria para chegar ao auge do esporte numa cobiçada posição no clube de futebol mais importante do Brasil, o de maior torcida, pelo menos.

Bruno é o machão que resolve tudo na base da violência e da força bruta

As mulheres que criticam Eliza e desfiam justificativas para ela ter “merecido morrer” reforçam o conceito machista de que homem pode fazer tudo e mulher não pode fazer nada. Mulher não pode agir, não tem posição ativa na vida. É a que está à mercê das decisões do homem e não pode contrariar os desejos do macho. É a mesma visão dos pais que soltam os filhos para fazer o que quiserem com as filhas dos outros, mas ensinam as meninas deles a ficar dentro de casa se comportando como boas moças.

Mulher não pode atuar no trabalho, não pode agir com assertividade “ai, que mulher masculinizada…”. Qual o problema de a mulher ter um perfil incisivo, de força, de afirmação de posição, de superioridade? Qual o problema de ela chefiar, de ela decidir ter um filho de alguém, independente das motivações, até porque é ela mesma que vai arcar com as consequencias das suas escolhas? Qual o problema da mulher querer ser? Porque os homens não querem deixar e as mulheres também criticam as que querem?

Em pleno século XXI, a mulher continua sendo tratada como acessório. No meu ponto de vista, a mulher tem muita força interna, é a mulher que gera a vida, ainda hoje, por mais que alguns homens comecem a se inserir na vida doméstica, é a mulher que decide a educação das crianças, é a mulher que define os rumos da família, é ela que resolve quase tudo. Mas, por outro lado, a mulher se sabota. Muitas sabem do potencial que têm dentro de si, mas preferem ficar à sombra do homem porque seria mais seguro e socialmente aceitável continuar sendo marginal. Em tempos de Marina Silva e Dilma Roussef pleiteando o maior cargo do país, a presidência da República, temos que refletir cada vez mais sobre essa esquizofrenia. Porque a mulher tem medo de ser mulher e de se descolar do homem a que foi ensinada a se vincular desde cedo como se não tivesse força de se manter com as próprias pernas e pensamentos? Que mulher você quer ser?

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Campanha pelo fim da violência contra mulheres e crianças


As estatísticas mundiais da prática de violência contra mulheres e crianças mantém números alarmantes e tanto as organizações oficiais quanto as chamadas de terceiro setor (Ongs e sociedade civil organizada) têm se engajado cada vez mais na luta para por um fim a tanta barbaridade. O blog Conversa de Menina, que também milita nesta causa, abre espaço para divulgar uma iniciativa muito bacana, promovida por um grupo de organizações adventistas na América Latina. E aqui, independente da crença religiosa das blogueiras, o que vale é a união em prol de uma causa mais que nobre.

Trata-se da campanha End It Now (Diga Não à Violência Contra a Mulher), que foi lançada em Brasília, nesta quinta-feira, por representantes de diversas organizações adventistas na AL. Até o momento, cerca de 70 mil assinaturas foram recolhidas em oito países sul-americanos (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Peru e Equador). A previsão é que as adesões aumentem através de mobilizações em todos estes países.

Para vocês terem uma ideia do que significa uma campanha assim, dados nacionais de segurança pública dão conta de que no Brasil, em 2005, a cada oito minutos uma criança era vítima de pedofilia. Estima-se ainda que, pelo menos, 69% dos casos de abuso sexual sejam praticados contra crianças. No caso das vítimas adultas, os percentuais também escondem a ponta de um iceberg que deve ser muito maior do que aparenta (basta lembrar que nem toda vítima denuncia a agressão sofrida por diversos motivos, o medo sendo o maior deles). Em média, entre 10 e 69% das mulheres em todo o mundo alegam ter sido vítimas de abusos psicológicos por um parceiro em suas vidas. Além disso, estudos mostram que entre 12 e 25% das mulheres do planeta já passaram por violência sexual!

A campanha End It Now continua até o mês de outubro e a meta mundial inicial é arrecadar um milhão de assinaturas.

Para conhecer mais sobre a campanha ou participar, visite os sites em português (www.enditnow.org.br) ou em espanhol (www.enditnow-esp.org).

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*Instituto Avon e Unifem juntos contra a violência doméstica

O Instituto Avon e o Unifem(Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento das Mulheres) firmaram uma parceria para enfrentamento da violência doméstica. Juntas, as duas entidades vão construir dois portais voltados para prevenção da violência contra as mulheres e assistência à mulher vítima das diversas formas de violência.

A ideia é reverter os comportamentos decorrentes da permissividade e impunidade com relação à violência doméstica e familiar contra as mulheres. Denominado Educação para os direitos das mulheres: disseminação do conhecimento e uso da Lei No. 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, o projeto recebeu propostas até o último dia 19 de abril.

O primeiro portal, voltado para operadores (as) do Direito – cerca de 600 mil bacharéis de Direito – será direcionado a advogados (as), delegados (as), promotores (as), defensores (as) públicos e juízes (as) e destacará políticas públicas e serviços de proteção e defesa dos direitos das mulheres e de assistência social e psicológica às vítimas de violência. Enquanto o segundo portal será voltado para jovens do ensino médio, na faixa dos 15 aos 18 anos, um universo de cerca de 10,2 milhões no Brasil, e incorporará formas lúdicas de transmissão de informações, como aplicativos audiovisuais, mídias interativas, jogos, passatempos, entre outros.

Pulseira da Atitude, da Avon

O projeto conjunto entre Avon e Unifem foi viabilizado com a doação de R$ 1,5 milhão ao Fundo, através da Campanha Fale Sem Medo – não à violência doméstica, de 2008. Esta quantia veio da venda da Pulseira da Atitude, primeiro produto global da empresa de cosméticos lançado para apoiar ações de combate à violência praticada contra mulheres em todo o mundo e de uma doação de mais R$ 500 mil pela Avon.

As ações terão como objetivo ampliar o conhecimento sobre a Lei Maria da Penha, em vigor desde agosto de 2006. Para a ONU (Organização das Nações Unidas) o enfrentamento da violência doméstica é uma questão que inclue tanto alterações na legislação, como a Lei Maria da Penha, como as mudanças nos comportamentos e atitudes de toda a sociedade – com destaque para os jovens e os operadores e operadoras de direito. O órgão internacional propõe ainda que cada país encontre sua própria estratégia, ajustada às suas realidades culturais, reconhecendo apenas que: “há uma única verdade universal aplicável a todos os países, culturas e comunidades: violência contra as mulheres é inaceitável, indesculpável e intolerável.”

UNIFEM – O Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM) foi criado em 1976 como resposta às demandas das organizações de mulheres presentes na Primeira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher, que se realizou na Cidade do México, em 1975. No Brasil desde 1992, o Escritório Regional do UNIFEM para Países do Cone Sul trabalha para promover a equidade de gênero e os direitos humanos das mulheres na Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. O UNIFEM trabalha para a redução da feminização da pobreza e da exclusão, promoção do fim da violência contra a mulher, detenção e inversão das taxas de propagação do HIV/AIDS entre as mulheres e o alcance da equidade de gênero na gestão pública democrática em tempos de paz e em situações de pós-guerra.

INSTITUTO AVON – O Instituto Avon foi criado em 2003, com a missão de direcionar o investimento social da Avon no Brasil, mantendo como foco principal a mulher e suas necessidades. Atualmente, o trabalho do Instituto Avon se dá em duas grandes frentes: a campanha Avon contra o Câncer de Mama, que promove a disseminação de informação sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama, e já apoiou 66 projetos com o mesmo fim; e a campanha Fale Sem Medo – não à violência doméstica, lançada em 2008 e já com resultados importantes para a causa.  A Avon e o Instituto conhecem a força da mulher como promotora de mudanças, de laços solidários, de desenvolvimento. Qualquer pessoa fortalecida, com saúde, dignidade e respeito pode ir mais longe, alçar vôo e manifestar seu potencial. Por isso é inaceitável que muitas mulheres, por falta de informação e de acesso a serviços, tenham suas potencialidades barradas. Trata-se, então, de promover ações informativas que possam mudar para melhor o cenário onde se encontram, buscando o equilíbrio e o respeito entre pessoas de todos os gêneros, origem, cor de pele, crença. Dessa forma, os direitos humanos são respeitados e a sociedade ganha.

Saiba mais:

Instituto Avon:  www.institutoavon.org.br e www.br.avon.com

UNIFEM Brasil e Cone Sul: www.UNIFEM.org.br

*Elaborado com informações das assessorias do Unifem e do Instituto Avon.

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Homem de Palavra: nova sessão

Inauguramos nesta sexta-feira mais uma série no blog, trata-se da Homem de Palavra, espaço que destinaremos aos meninos, para que eles escrevam artigos e comentem fatos do universo feminino e da vida em sociedade. O olhar de homens e mulheres, não importando se heteros ou homossexuais, sobre a vida, é bem diferente, porque a forma de estar e relacionar-se no mundo varia muito de pessoa para pessoa, de cada cultura, da educação recebida, de cada sexo. A ideia é mostrar um pouco do pensamento dos rapazes para quem frequenta o nosso blog. Lógico que não iremos recusar textos enviados por meninas, mas elas não terão uma sessão específica, uma vez que o blog já é feminino, ou seja, originalmente, o espaço é nosso moças! Jornalistas ou não jornalistas, amigos, conhecidos, vizinhos e até você, querido leitor, podem enviar artigos para publicação em regime colaborativo. Os interessados em participar podem enviar os textos para o nosso email: [email protected], identificando “Para a série Homem de Palavra”, que iremos avaliar o material e dar um retorno sobre a publicação. O autor, que terá seu nome ou pseudônimo no topo do artigo, poderá ainda, se essa for a sua vontade, enviar uma foto para publicarmos junto com o texto.

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GNT exibe documentário sobre violência doméstica

O canal por assinatura GNT, na faixa GNT.doc, exibirá no próximo dia 09, o documentário “Mulheres Contra a Violência”. A produção norte-americana conta a história de quatro mulheres, identificadas apenas pelo primeiro nome, que  relatam a violência que sofreram dentro de casa. De acordo com levantamento feito pela produção do documentário, a violência doméstica afeta tantas famílias nos Estados Unidos que algumas mulheres agredidas pelos maridos custam a acreditar que existe algo de errado no casamento. Nesse particular, embora a realidade retratada seja a a dos EUA, não difere tanto daquela vivida por brasileiras que sofrem o mesmo problema (Relembre os posts no blog sobre violência doméstica). Algumas americanas acham que merecem esse tipo de tratamento e, por isso, demoram a pedir ajuda!

Policiais e assistentes sociais contam no filme que têm grande dificuldade em ajudar as mulheres que, dominadas pelo medo, optam por continuar sofrendo com a violência em casa a denunciar seus companheiros. A maioria das situações retratadas envolve mulheres americanas, mas o programa também mostra casos de mulheres latinas.

Apresentado pela atriz Angie Harmon, conhecida por sua participação na série “Law & Order” e pelo marido dela, o atleta Jason Sehorn, a produção tem direção da premiada documentarista Maryann DeLeo.

Serviço:

Documentário Mulheres Contra a Violência

GNT – Canal Globosat

Terça-feira, dia 9, às 21h

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“Lobo Mau”: um crime contra a ingenuidade infantil

Roubar a ingenuidade das crianças deveria ser crime. Hediondo. Inafiançável e com pena máxima, sem direito à liberdade condicional ou qualquer outro benefício, como a progressão de regime, por exemplo. Eu não levanto a bandeira contra o pagode baiano. Respeito os estilos musicais e danço o que toca. Não tenho CDs, não é um ritmo que toca no som do meu carro, mas eu vou a um show tranquilamente. E me divirto. Não vejo qualquer problema com o fato de cada um se divertir da forma que gosta. O que eu repudio são alguma letras que, por exemplo, abusam da nossa inteligência, ou, pior ainda, “coisificam” as mulheres. E minha revolta desta vez é por causa de uma música que está estourada aqui na nossa terrinha, e que brinca com a personagem da Chapeuzinho Vermelho, infelizmente intitulada “Lobo Mau”.

Eu bem sei, como muitos de vocês, que a fábula original da Chapeuzinho Vermelho é muito diferente daquela versão que contamos às nossas crianças. Aliás, muitos dos contos de fadas não foram originariamente escritos para os pequeninos. Ao longo do tempo acabaram ganhando adaptações direcionadas a auxiliar no crescimento e desenvolvimento deles, com direito a lições de moral no fim. No livro “Os 7 pecados capitais nos contos de fadas: como os contos de fadas influenciam nossas vidas”, de Sheldon Cashdan, o autor esclarece que as edições primárias nasceram como “entretenimento para adultos… e eram contadas em reuniões sociais, nas salas de fiar, nos campos e em outros ambientes onde os adultos se reuniam”. Era inclusive muito comum encontrar temas como erotismo, voyerismo e estupro nas entrelinhas dos escritos.

Lembro bem de uma das versões da história da Chapeuzinho, a de Charles Perrault, em que a menina fazia um streaptease para o Lobo Mau, além de comer a carne e beber o sangue da avó morta pelo animal. No final, acaba ao lado do lobo na cama e é comida por ele. Então, não vamos falar de ingenuidade literária aqui. A questão é que nossos pequenos ouvem as histórias de outro modo. Os livrinhos cheios de cores e desenhos da Chapeuzinho mostram a eles que eles não devem desobedecer a mamãe. Chapeuzinho se depara com o lobo, porque não seguiu as instruções de sua mãe e seguiu para a casa da vovó pela floresta. E lá estava o lobo, de “butuca”, seguindo seus passos. Na versão infantil, um caçador tira a vovó da barriga do bicho e também salva a menina.

Quando ouvi a letra da música a que me referi no início do post, fiquei bastante incomodada. A letra, em minha opinião, tem um apelo sexual muito forte. Mas o que mais me choca é a incitação nua e crua à pedofilia. Na música, o Lobo Mau é personificado. Mas a Chapeuzinho continua uma menina. Muitos de vocês podem pensar que eu estou “viajando na maionese”, que minhas observações são exageradas. Aí cabe a cada um refletir e tirar suas próprias conclusões sobre a polêmica, e eu respeitarei todas elas. Mas acho um verdadeiro absurdo brincar com a ingenuidade das crianças desta forma. A dança é erótica, a música toca o tempo inteiro, e ainda que você tenha o maior cuidado com o que seu filho, sobrinho, etc ouve, não dá para manter tudo sob controle. Entre quatro paredes, e entre adultos, aí sim, pode até valer tudo. Mas um mínimo de pudor público é essencial.

A ingenuidade é a coisa mais bonita que pode existir em uma criança. E me preocupa o fato de tratarmos isso com descaso e negligência. Não importa se os contos surgiram em um contexto em que tentava-se controlar o comportamento humano, principalmente o feminino. O cerne do problema discorrido neste texto é outro. É impossível desconsiderar essa nova função incorporada pelos contos de fada, de encher de ludicidade e de imaginação a vida das crianças. Até que alguém tem a “brilhante” ideia de jogar todo esse processo de reconstrução literária no lixo, apenas para tentar ganhar fama a partir da exploração e do apelo sexual envolvendo o universo das fábulas.

No Carnaval de Salvador, a música já virou polêmica. A intenção era ter publicado este post antes. Mas acabou sendo bom o atraso, afinal pudemos acompanhar a atitude dos artistas. Nos blocos infantis, nem sinal da tal canção. Carla Perez, que puxa o Algodão Doce, anunciou para todos os cantos que não cantaria a música. Que bom! Eliana e Tio Paulinho, que animam o Happy, não tomaram partido da discussão, mas também não entoaram a letra de mau gosto no circuito da Barra. Quanto aos astros e estrelas do axé, Ivete Sangalo, uma das musas do ritmo baiano, fez questão de fazer ecoar o refrão pelas ruas. Logo ela, que tem um público infantil tão forte. Pior, que fez um CD para crianças e acabou de colocar no mundo uma delas. Fico pensando por onde anda a assessoria da moça, que não fez qualquer observação a respeito  do assunto. Ou será que fez? Lamentável.

Aqui, deixo meu apelo. Vamos cultivar a ingenuidade infantil. A vida adulta já nos arranca esta mesma ingenuidade a fórceps. Não deixem que façam isso com nossas crianças. A música não destrói apenas a imagem da Chapeuzinho Vermelho, destrói, aos poucos, os sonhos infantis.

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