As estatísticas mundiais da prática de violência contra mulheres e crianças mantém números alarmantes e tanto as organizações oficiais quanto as chamadas de terceiro setor (Ongs e sociedade civil organizada) têm se engajado cada vez mais na luta para por um fim a tanta barbaridade. O blog Conversa de Menina, que também milita nesta causa, abre espaço para divulgar uma iniciativa muito bacana, promovida por um grupo de organizações adventistas na América Latina. E aqui, independente da crença religiosa das blogueiras, o que vale é a união em prol de uma causa mais que nobre.
Trata-se da campanha End It Now (Diga Não à Violência Contra a Mulher), que foi lançada em Brasília, nesta quinta-feira, por representantes de diversas organizações adventistas na AL. Até o momento, cerca de 70 mil assinaturas foram recolhidas em oito países sul-americanos (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Peru e Equador). A previsão é que as adesões aumentem através de mobilizações em todos estes países.
Para vocês terem uma ideia do que significa uma campanha assim, dados nacionais de segurança pública dão conta de que no Brasil, em 2005, a cada oito minutos uma criança era vítima de pedofilia. Estima-se ainda que, pelo menos, 69% dos casos de abuso sexual sejam praticados contra crianças. No caso das vítimas adultas, os percentuais também escondem a ponta de um iceberg que deve ser muito maior do que aparenta (basta lembrar que nem toda vítima denuncia a agressão sofrida por diversos motivos, o medo sendo o maior deles). Em média, entre 10 e 69% das mulheres em todo o mundo alegam ter sido vítimas de abusos psicológicos por um parceiro em suas vidas. Além disso, estudos mostram que entre 12 e 25% das mulheres do planeta já passaram por violência sexual!
A campanha End It Now continua até o mês de outubro e a meta mundial inicial é arrecadar um milhão de assinaturas.
Para conhecer mais sobre a campanha ou participar, visite os sites em português (www.enditnow.org.br) ou em espanhol (www.enditnow-esp.org).
Sobre a violência doméstica.
Em outro blog, li a respeito da violência doméstica praticada contra homens. Não se sabe exatamente quão frequente ela acontece, mas acredito que o número de vítimas deve ser bem maior que o conhecido.
No caso da violência cometida contra eles, o fato, por incrível que pareça, é bem mais delicado. Além de submetidos à agressão (física ou psicológica, esta muito comum) da parceira, são estigmatizados pela sociedade e até pelos familiares. Pois, sabe-se que a mulher é vítima, o homem é “maricas”. Sendo assim, eles não têm a quem recorrer por receio de serem discriminados. E o problema permanece e se agrava.
E mais: se ele revida ou em uma tentativa de autodefesa ele machuca a mulher, a quem recai a culpa? Nele, uma vez que já está tão certo de que é sempre o homem que comete esse tipo de crime que por vezes ele acaba sendo culpado injustamente.
Assim, eu não diria “não” à violência contra a mulher, mas “não à violência contra a família”, à violência doméstica (isso inclui também abuso sexual). Principalmente porque em muitos casos a criança é vítima da agressão por parte da mãe.
É tão complicado! Porque ao mesmo tempo que é um problema social as ações são praticamente individuais. Como resolver?
Oi Gigi,
A gente já discutiu isso uma vez em um outro post sobre o mesmo tema, se não me engano, era um sobre estupro, e minha resposta na ocasião foi a mesma que darei agora: violência existe contra mulheres, homens, crianças, idosos, homossexuais, negros (mulher negra também apanha de homem negro, homens negros e jovens morrem nas mãos da policia todo dia), enfim, em todas as esferas da sociedade, seja entre pobres ou ricos, e cada vez em escala maior, infelizmente, a violência impera. Mas quando falamos da violencia domestica, enfatiza-se a mulher porque vivemos numa sociedade historicamente patriarcal e heteronarmativa.
Você sabia que boa parte dos homens vitimas de violencia domestica são homossexuais e sofrem abusos dos pais e demais familiares do sexo masculino? As delegacias registram as agressões contra gays e travestis? Podem até registrar, mas se órgãos como o GGB (Grupo Gay da Bahia) não estiverem ali, diariamente, fazendo pesquisa em noticias de jornal, nunca se consegue estatistica e nem dimensionar a realidade, que é bem tenebrosa. Os movimentos gays e feministas, inclusive, tem militado na causa da violencia juntos, porque viram que é uma luta comum e que independe de gênero, mas que o lado da balança pende mais para as chamadas minorias e creia, as mulheres são consideradas minoria! Ainda mais se ela for negra e pobre.
Lógico que existem sim, casos de mulheres que já bateram ou batem nos maridos ou até que praticam violencia psicologica e verbal contra eles, ou contra os pais idosos, ou mesmo, existem as medeias, que se voltam contra os próprios filhos, mas o percentual de mulheres que agridem homens é infinitamente inferior a violencia praticada contra as mulheres. No quesito abuso sexual contra crianças, por exemplo, meninos e meninas sofrem abuso sim, infelizmente, mas o percentual de meninas ainda é maior (passei 10 anos da minha vida fazendo reportagem de cotidiano, o que inclui casos tristes em delegacias ou em órgãos que atendem meninas abusadas pelos pais e tios, você não acreditaria nos casos, no drama vivido), e tudo isso porque o pensamento da nossa sociedade ainda é machista e ainda é heteronormativo, ou seja, o macho, heterossexual e dominante é quem dá as cartas e por dar as cartas, acredita que as mulheres, as crianças, os gays, os negros – reflexo ainda da escravidão – (considerados os mais fracos) são propriedade deles.
Um exemplo de pensamento machista e heteronormativo: se uma mulher usa uma roupa curta porque gosta de se vestir com roupas curtas, na mentalidade da nossa sociedade (ela é julgada por homens e por outras mulheres, o que é ainda pior), é como se ela consentisse o estupro e isso é absurdo! Como alguém que se enfeita, se cuida, veste uma minissaia, está consentindo em ser violentada?! Porque uma mulher tem de ser penalizada, xingada de desfrutável, de fácil, de vagabunda, apenas porque o machinho alfa não conseguiu controlar o próprio desejo?
Há séculos, as mulheres pagam quando liberam o próprio desejo e pagam mais ainda quando liberam o desejo masculino. O fruto do pecado, lembra? Milênios de catecismo na cabeça das pessoas, milênios dizendo que eva nasceu da costela de adão, para ser subordinada a ele, milenios de catecismo na cabeça das pessoas dizendo que eva tentou adão e por isso foram expulsos do paraíso. A mulher sempre vista como a serpente, a encarnação do mal, o desejo visto como um mal e quando reprimido, descambando para a perversão e a perversidade. Isso só existe num contexto de sociedade como o nosso, em que a mulher e por tabela, crianças, idosos, gays, são sempre colocados a margem e a mercê do macho alfa. Com certeza é uma questão muito complexa, como você diz, e uma campanha como essa que ajudamos a divulgar no post serve apenas para tentar minimizar o estrago ou ao menos para suscitar debate, despertar a consciência, fazer as pessoas pensarem no assunto.
O que precisamos é de uma mudança de mentalidade de homens e de mulheres, só assim algo poderá mudar. O que se precisa é que os pais, e as mães, eduquem seus filhos homens para respeitar as mulheres e não para subjuga-las, e que eduquem suas filhas mulheres para não julgarem outras mulheres (tem algo mais machista do que uma mulher chamando a outra de piranha, piriguete e vagabunda!?).
Outro exemplo: imagine uma cena. Um casal discute, no meio da discussão, a mulher – irritada – diz coisas duras ao marido, o humilha, xinga, e ele, para “controlá-la”, colocá-la no devido lugar, a ataca e mete a mão nela, a espanca. No pensamento da sociedade heteronormativa, tanto homens quanto mulheres machistas vão dizer que ela mereceu apanhar! Afinal, ela irritou o marido, feriu a virilidade, a mascullinidade dele, o humilhou. Mas eu não acredito que ela mereça apanhar. Não acredito quando um homem diz na frente da delegada, com a esposa com a cara quebrada diante dele, sangrando: “mas ela me provocou doutora e aí a senhora já viu, eu sou homem, um homem não deve ouvir certas coisas”. E creia, é com esse pensamento que muitos vão para delegacia. Ou então dizem: “bati sim doutora, bati porque ela é uma descarada, fica olhando o vizinho”. Alguns homens – uma quantidade enorme deles, infelizmente, ainda acreditam na lei que imperava até o século XIX, em que as adúlteras eram mortas, porque o marido precisava lavar sua honra com sangue. E quando eles mantinham, ainda mantém, mais de uma mulher, são cobrados? Não, eles são homens, homem pode. Não é assim que somos criados?
Mas, para mim, dizer a uma delegada que a mulher merecia ou pediu a surra é a desculpa de um covarde e de um psicopata. E é contra a covardia que já existe há milênios que se tanta lutar em campanhas como esta acima. Não é que as mulheres queiram ser vítimas, vitima é uma posição incomoda, nenhuma mulher que eu conheci e que tenha sofrido violencia queria ser vitima, mas o pensamento machista da nossa sociedade ainda nos coloca, a nós, mulheres, como vítimas, porque nos coloca como aquela que deve ser subjugada e controlada.
Nunca sofri violencia, nem palmada do meu pai por fazer alguma arte de criança, aliás fui uma criança que nunca apanhou nem de pai e nem de mãe, mas sinto na carne cada vez que uma mulher apanha no mundo, e você sabia que uma mulher leva uma surra a cada 30 segundos em todo o planeta? Por mais que alguns homens já tenham sofrido na mão de companheiras, eles não apanham às centenas a cada 30 segundos! Portanto, para mim, por mais imperativo que seja discutir a violência em todas as esferas da sociedade, a questão da violência contra a mulher é de extrema e urgente importância. É uma tecla que tem de ser tocada não com um acorde só, mas de forma estridente, todos os dias.
Um abraço!