Por que falar de Neruda?

Em Puerto Varas, no Chile, um grupo de turistas aguardava ansioso o início do circuito do Cruce Andino, um passeio com destino a Bariloche (Argentina), em um percurso que alterna trechos terrestres e outros por embarcações, cruzando os lagos andinos. Na fila, dois brasileiros conversam sobre turismo, viagens e afins, quando um deles retruca ao comentário do outro com um espantoso “Eu não sei quem foi Pablo Neruda”.

Pablo Neruda 2Embora eu aceite a ideia de que ninguém tem obrigação de conhecer todas as personalidades do universo, que temos o direito de ser ignorantes em uma série de assuntos, admito que fiquei chocada ao ouvir a história. Afinal de contas nós estávamos no Chile, a terra natal do brilhante poeta que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1971 e  inclusive foi cônsul de seu País na Espanha e no México. É a razão de eu estar falando de Neruda aqui. Porque, sim, ele merece ser assunto.

Claro que abaixo estão apenas algumas poucas informações sobre ele. É uma dose inicial, pra fazer nascer a curiosidade de pesquisar mais e mais, de ler sobre ele, de ler suas obras. Eu não tenho a menor dúvida do quanto será recompensador. Não há como se arrepender ao ler Neruda.

Ah, o mar – Neruda era um escritor apaixonado pelo mar. As águas do Pacífico lhe encantavam. Seu profundo amor pela imensidão azul inspirou a arquitetura de suas três casas, todas construídas no Chile, em Isla Negra, Santiago e Valparaíso. Seu fascínio, porém, era aliado ao medo das águas. E foi isso que o motivou a traduzir em suas moradas a estrutura de um grande barco. Se temia vagar pelos oceanos, trouxe-o para perto de si, através das suas construções, cercadas pelas águas.

Os assoalhos cobrem o chão. Ao serem tocado pelos pés, aceleram a sensação de que, realmente, seria possível estar em uma embarcação em alto mar. A beleza da poesia de Neruda está traduzida também ali, em cada estrutura que pensou para acomodar a sua vida, na qual coube três mulheres.

Neruda e MatildeMatilde, meu amor –  O grande amor foi Matilde, com quem manteve um tórrido romance enquanto ainda estava casado com Delia de Carril, a segunda esposa, vinte anos mais velha. Foi para esconder Matilde e dividir com ela os momentos de paixão que construiu a casa de Santiago, batizada de “La Chascona”.

E quando finalmente se separou da segunda esposa e assumiu publicamente a relação com Matilde, colocou em andamento o projeto da Sebastiana, a residência de Valparaíso. Lá em uma das estantes, uma frase nos traduz o quanto ele amava o mar. Não me recordo exatamente o trecho, mas posso tentar expressar o seu sentido: “de tão imenso o oceano, não houve onde colocá-lo, então colocaram-no defronte de minha janela”. É a visão da janela da casa de Neruda em Valparaíso. O oceano.  

Brilhantismo da caneta – Mas poesia mesmo Neruda fazia com a ponta da caneta. Os seus escritos têm uma sensibilidade singular. Alguns poucos sabem, mas o nome Pablo Neruda nasceu como um pseudônimo. Na certidão de nascimento, constava Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Por uma necessidade de sua vida política, acabou adotando oficialmente o nome Pablo Neruda, com direito ao registro legal da mudança. Era como ele era conhecido. E seria mais estratégico divulgar este nome em sua campanha.

Pablo Neruda 3As suas poesias sofreram influências várias ao longo do tempo. O começo de seu trabalho literário é mais voltado ao romantismo extremo, muito próximo do que escrevia o poeta norte-americano Walt Whitman. Daí, ele passa por uma fase mais surrealista, com traços da literatura de André Breton. Também passou por experiências literárias mais herméticas. Ele difundiu os problemas Espanha de 1936 e a condição dos povos latino-americanos e seus movimentos libertários.

Ele era um revolucionário. Um militante comunista, ícone da esquerda latino-americana, seguidor dos ideais de Carl Marx. Na sua roda de amigos estavam personalidades renomadas como García Lorca e Miguel Hernández. Suas casas são repletas de obras de arte, a grande maioria delas cedidas pelos amigos. Dentre eles, Pablo Picasso. Era amigo pessoal de Salvador Allende, para quem cedeu a presidência do Chile quando foi indicado ao cargo. Agora é só ler mais e mais. O caminho por onde começar segue logo abaixo.

Livros de Neruda para se aprofundar

Capa do livro Confesso que ViviConfesso que Vivi (Neruda)– é uma autobiografia, único livro de Neruda escrito em prosa. Conta sua trajetória de vida desde a infância, até a morte de Salvador Allende, assassinado pelas tropas de Pinochet. Veja a cotação de preços e compre o livro.

Capa do Livro MInha Vida com Pablo NerudaMinha Vida com Pablo Neruda (Matilde Urrutia) – Uma obra comovente em que o grande amor do poeta chileno retrata os anos de convivência. Veja a cotação de preços e compre o livro.

E MAIS:
*Vinte poemas de amor e uma canção desesperada
*Livro das perguntas (também para a criançada)
*Presente de um poeta
*Prólogos
*Cadernos de Temuco
*E todos os outros que você encontrar na livraria!!!!

3 comentários em “Por que falar de Neruda?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *