Os dados estatísticos mostram que aumenta gradativamente a cada ano o número de mulheres que decidem adiar a gravidez. São vários os motivos que podem levar uma mulher a tomar essa decisão. E é disso que trata o artigo abaixo. Além de trazer algumas das razões desse novo contexto social, também explica de forma bem didática por que aumenta a dificuldade de engravidar com o passar do tempo. Muito bacana para esse período de comemoração do Dia das Mães.
*Uma nova leva de mães aos 40…
Os padrões tradicionais da maternidade vêm sendo gradativamente reformulados, a experiência não implica mais em dedicação exclusiva. Mesmo em meio a tantas mudanças sociais, o desejo e o prazer de ser mãe continuam como elementos presentes e marcantes na estrutura de relevâncias femininas
O adiamento da gravidez é uma escolha muito comum das mulheres, nos dias de hoje. O número de grávidas ou mulheres tentando engravidar na faixa entre 30 e 40 anos tem aumentado nos últimos anos. Pelo menos 20% das mulheres aguardam até os 35 anos para iniciar uma nova família. São muitos os fatores envolvidos na decisão de adiar a maternidade: a estabilidade profissional, a espera por um relacionamento estável, o desejo de atingir segurança financeira, ou, ainda, a incerteza sobre o desejo de ser mãe…
“Entretanto, é importante alertar estas mulheres sobre as consequências desta decisão: a idade pode afetar a capacidade de conceber. É também importante informá-las sobre os tratamentos disponíveis que podem ajudá-las a engravidar, quando elas decidirem que o melhor momento chegou”, afirma o ginecologista e obstetra Aléssio Calil Mathias, diretor da Clínica Genesis, em São Paulo.
Segundo o IBGE, o acesso mais fácil a métodos contraceptivos,
os custos elevados necessários para a criação de uma criança
e a inserção da mulher no mercado de trabalho provocaram a redução do número de filhos.
Essa realidade se evidencia na queda da taxa de fecundidade,
que declinou de 2,7 filhos em 1992 para 2,4 filhos em 2002.
A queda na fertilidade feminina com o avanço da idade é um fator biológico. Estima-se que a chance de gravidez por mês é de aproximadamente 20% nas mulheres abaixo de 30 anos, mas de apenas 5% nas mulheres acima dos 40. Mesmo com os tratamentos, como a fertilização in vitro, a fertilidade diminui e as chances de um aborto espontâneo aumentam após os 40. “Há várias explicações para esse declínio de fertilidade: condições médicas, mudanças na função ovariana e alterações na liberação dos óvulos pelos ovários”, afirma Mathias.
A mulher de 40 anos também tem mais chances de apresentar problemas ginecológicos, como infecções pélvicas e endometriose, que podem diminuir a fertilidade. Exames de fertilidade, como a histerosalpingografia ou a laparoscopia, podem ser requisitados para diagnosticar algumas dessas condições. Embora a maioria dos esterileutas recomende que os casais tentem a gravidez por pelo menos doze meses antes de procurarem ajuda médica, mulheres acima dos 40 anos podem realizar esses exames a qualquer momento.
Por que as chances de engravidar diminuem…
A queda nas chances de engravidar, em mulheres acima de 40 anos, é mais freqüente devido às mudanças naturais que ocorrem nos ovários.
O hipotálamo e a hipófise, glândulas localizadas no cérebro, coordenam os processos que levam à ovulação e à menstruação regular. O hipotálamo estimula a hipófise a liberar o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). Esses hormônios são secretados na corrente sanguínea e controlam o crescimento dos óvulos (oócitos) e a produção do hormônio feminino, estrógeno, pelos ovários.
“A maioria das mulheres têm aproximadamente 300.000 óvulos em seus ovários na puberdade. Para cada óvulo que amadurece e é liberado durante o ciclo menstrual, entre 500 a 1000 não amadurecem totalmente e são reabsorvidos pelo corpo”, explica o médico.
Quando a mulher atinge a menopausa, que normalmente ocorre entre os 40 e os 56 anos de idade, há apenas alguns óvulos remanescentes. Esses óvulos restantes geralmente não respondem bem às secreções de FSH e LH da hipófise e os níveis desses hormônios na corrente sanguínea aumentam com o intuito de estimular os ovários.
Um nível elevado de FSH no sangue no terceiro dia do ciclo menstrual sugere que o ovário não está respondendo normalmente aos sinais da hipófise. “Essa falta de resposta ovariana é uma evidência indireta de baixa qualidade do óvulo. A diminuição da resposta do ovário ao FSH e ao LH da hipófise resulta em uma baixa no estrógeno e na progesterona produzidos pelo ovário”, explica o diretor da Clínica Genesis.
Aos poucos, o ciclo menstrual vai se tornando menor e, eventualmente, os ovários podem não liberar óvulos, resultando em um ciclo sem ovulação. Além disso, os hormônios – estrógeno e progesterona – são críticos para o desenvolvimento normal do endométrio, onde o embrião deve se fixar para se desenvolver. “Uma redução nos hormônios dos ovários, que acontece em decorrência da idade avançada da mãe, também contribui para diminuir as chances de gravidez”, observa Aléssio Calil Mathias.
Dados do IBGE revelam que, em 1991,
as mães que tiveram o primeiro filho na meia idade eram 7.142 (0,67%)
e, em 2000, somavam 9.063 (0,79%).
Ainda que em número absolutos este grupo de mães seja pequeno,
esse fenômeno já pode ser acompanhado, principalmente,
nos estados do Rio de Janeiro (passou de 0,91%, em 1991, para 1,09%, em 2000)
e São Paulo ( de 0,65% para 0,87%).
O relógio biológico em ação
À medida em que a mulher envelhece, os óvulos remanescentes também envelhecem, tornando-se menos capazes de serem fertilizados pelos espermatozóides. Outro fator a ser ponderado é que a fertilização desses óvulos está associada a um risco maior de alterações genéticas. “Por exemplo, alterações cromossômicas, como a Síndrome de Down, são mais comuns em crianças nascidas de mulheres mais velhas. Há um aumento contínuo no risco desses problemas cromossômicos conforme a mulher envelhece”, explica o ginecologista.
Quando os óvulos com problemas cromossômicos são fertilizados, eles têm uma possibilidade menor de sobreviver e crescer. Por essa razão, mulheres que já passaram dos 40 anos têm um risco aumentado de abortos espontâneos também.
As taxas menores de gravidez em mulheres acima de 40 são, em grande parte, devidas ao aumento de óvulos com problemas cromossômicos. Nos tratamentos de reprodução assistida, por exemplo, quando óvulos são coletados em mulheres de 20 a 30 anos, fertilizados e colocados no útero de uma mulher com mais de 40, suas chances de gravidez aumentam, são maiores do que se ela tivesse utilizado seus próprios óvulos.
“O sucesso no emprego das técnicas de doação de gametas confirma que a qualidade do óvulo é uma barreira fundamental à gravidez para as mulheres mais velhas. Embora, hoje, a idade não se constitua numa barreira intransponível à gravidez, qualquer tratamento de infertilidade, exceto a doação de gametas, terá menos sucesso, em mulheres acima de 40 anos”, diz o ginecologista Aléssio Calil Mathias.
As mães, por primeira vez, com idades entre 40 e 49 anos, fazem parte de um segmento populacional com alta escolaridade (59,1% tem oito anos ou mais de estudo) e pertencem a famílias com alto poder aquisitivo ( 25,7% com rendimento mensal familiar de mais de 10 salários mínimos).Os dados são do IBGE.
Quando a decisão é adiar a maternidade…
Quando uma mulher com a idade mais avançada decide engravidar é importante que ela procure o aconselhamento médico. Se o médico identificar qualquer problema físico que possa afetar suas chances de engravidar, ou se ela estiver tentando conceber por mais de 6/12 meses, ela deve procurar um esterileuta.
“Como as chances de gravidez diminuem com a idade é recomendado que todos os exames necessários para verificar a fertilidade desta mulher sejam prontamente realizados. A maioria dos exames podem ser realizados no período de 1 a 3 meses. O tratamento apropriado pode ser iniciado imediatamente após a avaliação da mulher”, diz Mathias.
Uma vez realizados os exames necessários e se a causa da infertilidade for diagnosticada, o médico pode discutir com o casal interessado em engravidar os tratamentos possíveis. “Atualmente, o tratamento da infertilidade encontra muitas opções terapêuticas no Brasil. Muitas vezes, a gravidez é obtida com o emprego de condutas de baixa complexidade, como o coito programado. Nem sempre é preciso recorrer à fertilização in vitro”, explica o ginecologista Aléssio Calil Mathias.
Entretanto, “na presença de infertilidade inexplicada ou quando os tratamentos convencionais fracassam, tratamentos de alta complexidade podem ser indicados, tais como a superovulação com inseminação intra-uterina programada ou a fertilização in vitro. O importante é informar ao casal, especialmente à mulher, que, assim como em qualquer outro tratamento, a idade afeta as chances de gravidez, mesmo com o emprego de alta tecnologia”, diz Mathias.
*Texto encaminhado ao Blog pela MW Consultoria de Comunicação.
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