As janelas permaneciam sempre fechadas. A porta só abria quando Alice precisava sair para resolver as demandas da vida. O silêncio naquela residência causava um certo desconforto entre os vizinhos. Nada se via, nada se ouvia. Se alguma coisa acontecesse a Alice ali dentro, ninguém notaria.
Exceto à noite, quando a mulher de meia idade e expressão cansada abandonava o isolamento para realizar a única atividade que a permitia ter um mínimo de convívio social naquele ambiente: varrer a rua. Era uma tarefa diária, executada de forma primorosa e pontualmente à meia-noite.
Abria as portas vermelhas, empunhava a vassoura e encetava o processo de pôr fim aos resíduos abandonados na calçada. Não se ouvia uma palavra sequer, apenas o esfregar ligeiro da piaçava no chão. Poeira alguma conseguia resistir à sua insistência, que se assemelhava a uma compulsão pela limpeza. Seus critérios, ninguém compreendia. Uns dias, a tarefa não durava mais que poucos minutos. Em outros, eram horas consecutivas, madrugada adentro.
Alguns vizinhos julgavam-na louca. Alice tampouco passava imune pelas crianças, que soltavam piadinhas nas poucas oportunidades em que se mostrava durante o dia. Houve uma série de especulações por meses, desde que Alice se mudara para a nova vizinhança. Nunca houve respostas, e o assunto fora discretamente encerrado nas rodas de bate-papo. O assunto, sim, mas não Alice, que, ignorando comentários e indagações, mantinha-se firme na árdua missão de tentar varrer para longe as lembranças de seu passado.
Delicado, como sempre nega. 😀
A intenção era tratar do isolamento com delicadeza.. Que bom ter conseguido pasar isso. Beijos, Davi!
Gostei muito desse, um dos melhores dessa última safra 🙂
Obrigada, Deia. Você bem sabe que é uma das minhas inspirações. Receber um elogio seu é sempre gratificante! Beijão!
Adorei!!!!
Oi, Alane!
Saudações!
Tenho navegado pelo site ‘Conversa de Menina’ e estou me deliciando com os contos que você tem escrito. São fabulosos! A cada leitura, é como se eu estivesse vendo um curta-metragem, tamanho o envolvimento com as situações e suas personagens. O último que li ‘Varrendo a Vida’, já considero um ‘clássico’; – em poucas linhas, há uma grande capacidade de expor um universo tão delicado que é a introspecção humana. Um encantamento, sem sombra de dúvidas.
Congratulações, por esta escolha literária!
Bjs!
Bene Menezes-SP
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Obs.: Alane, eu, também, gosto de escrever, porém, é mais como uma distração, um lazer e, o faço, muito de vez em quando. Nos últimos anos, me senti desencorajado para tal, dado o fato de acreditar que seja uma legítima perda de tempo. Ninguém lê, nem se importa (Rsrsr); Então, por um tempo, decidi abandonar a prática.
Há três anos, criei um ‘blog’ chamado ‘Observatório Insano’, onde estão postadas algumas crônicas e narrativas simples de nosso cotidiano. Caso você tenha algum ‘tempinho’ e paciência (Rsrs) para acessá-lo e ver o conteúdo, por favor, esteja a vontade!
Desculpe-me, caso encontre alguns erros de português.
O endereço: http://www.observatorioinsano.blogspot.com
É isso!
Vaaleeeu?!!!
OLá, Bene. Fiquei bastante lisonjeada com seus elogios aos contos. Acho fascinante o universo literário e estou dando os primeiros passos nesta narrativa. Estes são os primeiros contos que escrevo e estou super feliz por ter retornos tão bacanas como este seu. Obrigada mesmo, de coração. Quando ao seu blog, tenha certeza de que passarei lá, sim, farei questão de ler seus textos. É um universo maravilhoso. Beijo grande e volte sempre ao blog. Será um prazer imenso trocar ideias com você!!