Em 2010 o Dia Internacional da Mulher é um pouco mais especial porque a data completa 100 anos de sua criação. Não vou comentar a importância deste dia para as lutas femininas, pois já escrevi sobre isso no ano passado, no post “Por que existe Dia Internacional da Mulher?”. E também porque acredito, sinceramente, que quem questiona essa data não tem ideia do que seja história, preservação da memória, herança cultural e muito menos o que significa ser mulher nos dias de hoje ou no passado, quando a opressão machista sobre as nossas avós era muito maior. Este ano, ao invés de filosofar, reuni alguns artigos que foram enviados ao blog por especialistas de áreas diversas, – todos com autorização para publicação – que refletem sobre saúde, mercado de trabalho e comportamento das mulheres. A partir deste domingo e até o final da Semana da Mulher, cada dia publicarei um dos textos, assim, teremos muito material para reflexão e talvez desta forma, não seja mais preciso questionar a existência do 8 de Março. Espero que gostem!
E para começar a série, abaixo publico o artigo assinado por Maria Helena Vilela, do Instituto Kaplan. Confiram:
Centenário do Dia Internacional da Mulher – Sexo frágil e a Aids
*Maria Helena Vilela
As mulheres lutaram por seus direitos sexuais, pelo direito de estudar, desenvolver uma carreira profissional e conquistar sua autonomia econômica e pessoal. Não era assim até a época de minha mãe! D. Lenita, mesmo sendo uma mulher muito estudiosa, foi impedida de realizar seu sonho profissional – ser médica – porque, em Maceió, onde ela morava, ainda não havia faculdade de medicina. Para poder estudar, ela teria que ir para Salvador, e isso nem pensar! A moça só podia sair de casa, se fosse para casar. Estudar, formar-se, ganhar dinheiro e fazer escolhas era coisa de homem. Mulher tinha que ser dependente, submissa, inocente, e confiar no homem acima de qualquer coisa.
Hoje, a garota pode decidir sobre a sua vida e realizar seus sonhos. O mundo mudou bastante e a nossa realidade é outra, muito distante daquela que D. Lenita viveu. Mas, quando a questão é amor e sexo, a menina volta no tempo, e ainda se comporta submissa aos desejos do namorado e dependente da iniciativa dele para decidir, literalmente, sobre a sua vida – usar ou não a camisinha. É isto que se pode deduzir do crescente aumento da Aids nas jovens e das pesquisas que mostram a dificuldade de a garota negociar o uso da camisinha por medo de perder o namorado ou por medo de ser julgada “galinha”. Há meninas que não usam preservativo em nome do amor pelo namorado, acreditando que “quem ama confia”. Tais comportamentos fazem da mulher o verdadeiro sexo frágil.
Fragilidade – A infecção pelo HIV se dá pelo contato direto com o sangue, o sêmen e as secreções vaginais, e isto pode acontecer no sexo oral, mas principalmente, na relação vaginal e no sexo anal. O ânus e a vagina são órgãos muito vascularizados, revestidos por um tecido delgado chamado de mucosa. Na relação sexual, especialmente durante a penetração, o pênis provoca atrito na vagina ou no ânus, mesmo que a garota esteja lubrificada. Este atrito, por sua vez, causa micro-fissuras (aberturas muito pequeninas) nas paredes das mucosas, aumentando o risco de que o HIV presente no esperma entre na corrente sangüínea.
Além disso, a mulher é mais vulnerável à Aids, porque a menstruação aumenta o risco de contaminação. Quando a mulher está menstruada, o útero fica completamente desprotegido e exposto ao HIV, por causa da descamação de sua parede, característica da menstruação. Fazer sexo menstruada é “entregar o ouro para o bandido”, pois o vírus atinge a corrente sangüínea sem precisar fazer esforço.
Como se não bastasse tudo isso, o canal vaginal é um órgão interno, o que dificulta à mulher perceber qualquer alteração na vagina. Muitas vezes, ela só descobre que tem uma infecção, ou mesmo uma DST, se consultar um ginecologista, ou quando a doença já está bastante adiantada. Uma infecção agrava ainda mais a fragilidade da parede vaginal, aumentado a vulnerabilidade da mulher à Aids.
Meninas, fiquem espertas! Se existe sexo frágil, estes são o sexo anal e o vaginal, quando o assunto é Aids. Portanto, alguns cuidados são fundamentais:
– Usar camisinha em todas as relações sexuais;
– Fazer a higiene da vulva com água e sabonete, pelo menos uma vez por dia;
– Não ter relação sexual desprotegida, enquanto estiver menstruada;
– Consultar o ginecologista pelo menos uma vez no ano, mesmo que não esteja sentindo nada.
Meninas, sejam donas de seu corpo! Estejam atentas ao que seu corpo precisa e fiquem fora desta estatística da Aids. Quem se ama, se cuida!
*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplan de Sexualidade Humana