Artigo: “Por que meu filho mente tanto?”

O artigo publicado abaixo foi enviado para nós por email pela assessoria de comunicação da CGC Educação (clique aqui para visitar o site). Trata-se de uma análise da psicóloga Beatriz Guimarães Otero sobre a questão da mentira na infância. Muitas vezes, ficamos chocados quando surpreendemos um filho contando mentiras, mas existe uma fase no desenvolvimento da criança em que realidade e fantasia não são tão nítidas. Leiam o texto  da especialista, é muito esclarecedor, principalmente para quem tem crianças nessa faixa etária.

===================================================

Por que meu filho mente tanto?

Beatriz Guimarães Otero*

A mentira é sempre encarada com muita preocupação por parte dos pais. Por esse motivo, é importante ter em mente que para uma criança de até cinco anos de idade, mentir é normal. Até esta fase do desenvolvimento, é tido como completamente normal que a criança invente histórias. Isto porque a realidade ainda é muito confundida com a fantasia. A imaginação e a fantasia fazem parte do mundo da criança até os cinco anos, e são bases para o pensamento lógico do adulto. Mas, à medida que a criança vai crescendo, essas funções vão dando lugar à noção de realidade, sem que sejam completamente extintas. A partir dos seis anos de idade espera-se que a criança ainda brinque com a imaginação, mas que fantasie bem menos. A mentira pode ser encarada como intencional a partir dos sete anos de idade, fase na qual a noção de realidade já está estruturada e a criança sabe diferenciar muito bem o que é mentira e o que é realidade. As crianças maiores podem mentir por vários motivos: temer castigos e repreensões, receber alguma recompensa, se isentar de culpas, fugir de responsabilidades, melhorar a auto-estima, chamar a atenção. Outro motivo que pode levar a criança a mentir é quando seus pais mentem. Os pais são os modelos mais importantes para as crianças. As crianças se espelham no comportamento de seus pais. Se os pais pedem que a criança minta ao telefone dizendo que não estão em casa, estão ensinando seu filho a mentir. Ou quando os pais deixam passar uma mentira de seu filho, também estão reforçando este comportamento, fazendo com que a criança encare a mentira como algo natural. Isto, no futuro se transforma no resfriado fictício para escapar da bronca da professora por não ter feito a lição, no automóvel de última geração que na verdade o pai não tem para chamar a atenção dos colegas etc. Percebemos que a criança aprende desde cedo a mentir quando seus pais a ensinam a não dizer quando acham a roupa da colega feia, ou quando não gostam de um presente de aniversário. Ou seja, à medida que começam a ampliar sua rede de relacionamento, as crianças são treinadas a contar algumas mentiras para não magoar o outro, inibindo sua espontaneidade. A partir daí, a criança aprende que necessita esconder o verdadeiro sentimento em algumas situações. Uma pergunta muito importante que surge é: e como os pais devem agir frente a tudo isto? Em primeiro lugar, os pais devem, sempre que perceberem uma mentira, pontuar a diferença entre a fantasia e a realidade, mesmo que a criança ainda seja pequena e não entenda essa diferença. A criança tem que saber que quando mente terá a desaprovação de quem o cerca, e que se fizer o contrário, ou seja, contar a verdade, será admirada. E que ao invés de castigar ou dar uma bronca, compete aos pais ensinarem os benefícios da verdade e os prejuízos da mentira. Isto porque as broncas e os castigos gerarão mentiras futuras com a intenção de fugirem disto. Quando a criança desenvolve um comportamento mentiroso freqüente que se estende muito além dos sete anos, os pais devem procurar ajuda profissional para compreender porque isto está acontecendo e receber as orientações necessárias. Isto porque após esta idade, o emprego freqüente de histórias fantasiosas pode revelar problemas sérios. Afinal, a fantasia neste caso pode não ser mais considerada uma mentira proposital, mas sim, uma fuga da realidade, como é o caso das psicoses em que a mentira vem em forma de delírios, devido a uma quebra de contato com a realidade. Ou ela pode surgir também na forma de uma compulsão, como se fosse uma dependência. Neste caso, a pessoa sabe que está mentindo, mas não consegue se controlar. Contudo, na maioria das vezes, a “imaginação fértil” das crianças indica um crescimento saudável, mas que exige a atenção de sempre.

Beatriz Guimarães Otero é psicóloga e psicoterapeuta junguiana*

===========================

Leia outros artigos publicados no blog:

>>Crianças hiperestimuladas, crianças felizes?

5 comentários em “Artigo: “Por que meu filho mente tanto?”

  1. Até os cinco anos, não considero mentiras as fantasias e brincadeiras de uma criança. Mentira é algo bem diferente. Constitui uma intenção da qual a criança é provida de total noção dos motivos que levam a praticá-la.

    Acho válido que os pais mostrem aos filhos, desde cedo, a importância da sinceridade e da verdade, que as mentiras nem sempre levam ao melhor caminho e podem, inclusive, fazer com que, no futuro, as relações com outras pessoas tornem-se conflituosas através da perda da confiança e cumplicidade.

    Entretanto, mais cedo ou mais tarde, o mundo mostrará para esta criança, seja ela ainda jovem ou já crescida, que nem sempre a sinceridade pode ser a melhor escolha e por vezes ela deve ser ocultada, mascarada ou substituída por uma mentira, se as circunstâncias assim exigirem. Neste caso, como devem agir os pais? Alertar para possíveis acontecimentos? Dizer que, independente das consequências, ela deve manter-se firme na sinceridade, ainda que isto a prejudique seriamente? Ou mostrar que é natural que uma mentira ou outra deve ser dita apenas para não ocasionar conflitos desnecessários?

    Existe uma linha muito tênue que separa os valores sociais IDEAIS e os REAIS. E nem sempre ambos coincidem. Uma pessoa atenta e sensata aprenderá, com o tempo, o discernimento entre o ideal e o real.

    Para finalizar, a famosa máxima: “eu não minto. Eu OMITO!”

  2. Oi Gigi,

    Muito interessante a sua colocação, mas quando era criança, aprendi uma coisa que minha mãe sempre repetia para as filhas: ” a verdade doi, mas a mentira provoca estragos ainda maiores”. Aprendemos a “omitir” devido ao jogo social a que nos submetemos e porque nos colocamos como reféns das expectativas e frustrações dos outros. Omitimos sob a desculpa de que não podemos magoar o outro e no entanto, nós mesmos nos magoamos ao sustentar uma farsa. Creio que dita da maneira certa, a verdade deve sempre prevalecer. Pode até causar mágoas, mas com o tempo, a pessoa que ouviu a verdade perceberá que dessa forma tem liberdade de escolha. Quanto mentimos para alguém, sustentamos uma fantasia, ficamos presos ao período da infância em que não sabemos ainda como lidar com o mundo, tiramos o poder de escolha da pessoa que ouve nossa mentira, porque a iludimos numa fantasia. Mas quando dizemos a verdade, damos a ela a opção de nos aceitar com todos os nossos humanos defeitos ou nos recusar, o que é direito dela. Mentimos porque não sabemos lidar com a rejeição, mas a rejeição existe tanto quanto a aceitação. Eu, particularmente, prefiro que me contem todas as verdades, até aquelas que mais tenho medo de ouvir.

  3. Eu acho é que são os Pais que incentivam os filhos a mentirem . Por exemplo , a Mãe que não deixa a filha ir na casa do namorado : a menina vai mentir até não poder mais , vai falar que está em outros lugares e tal . Um exemplo clássico disso ocorreu com uma ex -aluna minha de Faculdade : a Mãe não a deixava namorar um rapaz que trabalhava lá perto por ele não ser do mesmo nível social que ela e não ter Curso Superior . Qual o resultado disso tudo ? Ela começou a inventar que fazia aulas aos Sábados e , pior ainda , depois que se formou naquele mesmo ano , ainda inventou que começou a fazer Pós – Graducação gratuita na Faculdade , tudo isso só para encontrá- lo . Ficaram 2 anos e 2 meses assim , nesse es quema , e é claro que não deu certo essa relaçao , à base de mentiras . Eu penso : Se a Mãe não teve a capacidade de jogar limpo com a filha , se não se importasse tanto com uma mulher de 25 anos , muita mentirada teria sido evitada !

  4. Pessoas e principalmente o universo feminino mentem tanto que findam por acabar a relação……o que um homem assume rindo, a mulher nega chorando por uma inverdade……é complicado viver de mentiras e é um jogo muito danoso ainda mais quando a outra parte joga limpo e quer apenas a verdade de volta………o inacreditável é que existem pessoas que são extremamente felizes nesse inferno……..ja sofrí muito e ainda sofro pelas vaidades das sustentações mentirosas de minha esposa……..

    1. É uma pena Silencio, que a decepção com a sua esposa tenha feito você acreditar que todas as mulheres mentem. A mentira é um desvio de caráter e a falta de caráter não é demarcada por um gênero específico. Homens ou mulheres podem mentir ou não mentir da mesma forma. Sua esposa não mentiu para você por ser mulher, ela mentiria da mesma forma se fosse homem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *