“(…) Percebo em nossos dias uma intolerância cada vez maior com os limites humanos. Temos medo das imperfeições. E por isso evitamos o outro no momento de sua fragilidade. Corremos o risco de cultivar pessoas e realidades a partir de expectativas, e não de possibilidades. Queremos o outro, mas esse querer fica condicionado. Queremos até o momento em que nossas projeções não sejam desarticuladas. Queremos, mas desde que absolutamente nada contrarie nosso querer.
(…) O amor que sentimos pelo outro pode ser concreto fora da experiência de limites e imperfeições? É possível amar alguém sem tocar suas formas mais imperfeitas? O amor consiste somente em reconhecimento de valores? Não creio, meu amigo. Tenho aprendido, a partir de minha experiência, que o amor só é concreto depois de termos necessitado do perdão.
Antes disso há qualquer outra coisa, menos amor. Eu só sei que amo verdadeiramente depois de ter esbarrado nas imperfeições do outro, depois de ter conhecido sua pior faceta e mesmo assim continuar reconhecendo-a como parte a que nao posso renunciar. Só o amor me faz conviver com o precário da vida, com a indigência humana (…)”
Leia a íntegra do livro: “Cartas entre amigos – sobre medos contemporâneos”
O texto acima é para promover uma reflexão. É um pequeno trecho do livro “Cartas entre amigos – sobre medos contemporâneos”, que reproduz 18 cartas trocadas entre o educador Gabriel Chalita e o padre Fábio de Melo. A troca de correspondências começou no final de 2008, quando Chalita se preparava para assumir o cargo de vereador em São Paulo, e Melo encerrava uma turnê de 120 shows. No período, eles começaram a refletir sobre temas diversos que cercam a contemporaneidade, como a violência, o amor, o fracasso, a inveja, a solidão, o ódio, dentre tantos outros. Temas que precisamos o tempo inteiro rever, analisar, discutir. O cotidiano já não é fácil nessa nossa sociedade moderna. Não podemos descuidar do resto.