Resenha: O demônio do meio-dia

Nomear o mal para assim, conhecendo-o, poder lutar contra ele. O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão, de Andrew Solomon (Companhia das Letras, 2014), não só batiza, como faz a autópsia de um dos males mais cruéis e, ainda hoje, incompreendidos, embora a notificação de casos venha aumentando no rastro da busca cada vez maior por esclarecimento sobre os transtornos depressivos. 

O livro, lançado em 2001 e publicado no Brasil em 2014, com um epílogo exclusivo para a edição brasileira ,onde o autor atualiza alguns fatos da edição original, contribui significativamente para diminuir o estigma sobre a doença. Mérito, aliás, do excelente trabalho de reportagem do autor, que é também um paciente em tratamento, com histórico de pelo menos três grandes surtos depressivos, como ele mesmo descreve. 

Mas, o livro vai além de um relato pessoal ou de uma pesquisa aprofundada e desenvolve no leitor que não conhece o assunto na carne, a empatia por quem luta para não ser devorado por esse ‘demônio’. Me senti tocada e muito próxima das pessoas que sofrem da doença. Ao menos, mais capaz de compreendê-las.

Esclarecedor, sensível, rico em detalhes e extremamente didático, o que ajuda bastante como introdução ao tema para quem é leigo no assunto, a obra traz ainda muitos relatos de pacientes, com seus dramas e histórias de vida, bem como as tentativas de vencer a depressão. 

O livro é denso e recheado de informações. Exige atenção na leitura, oferece quase 100 páginas só com notas explicativas, mas ainda assim é uma leitura agradável, sem academicismos, que dialoga com o leitor comum e descortina para ele um tema espinhoso, sem simplificar demais e sem complicar só por puro pedantismo.

Vale destacar as análises bastante lúcidas do autor sobre a atuação da indústria farmacêutica no tratamento da doença e do quanto, se por um lado, doentes de depressão precisam muito dos remédios para lutar contra o mal; por outro, existe uma tendência meio irresponsável de certas áreas da medicina em banalizar a prescrição de antidepressivos para quem não necessariamente precisa dessas drogas.

Solomon também passa em revista as psicoterapias, mostrando o quanto tomar coquetéis de remédios sem ter um acompanhamento psiquiátrico adequado é ineficaz para evitar recaídas. Do mesmo jeito que apenas fazer terapia sem o uso dos fármacos, para muitos doentes, não surte efeito e agrava os episódios da doença.

Os problemas da mente, como Andrew Solomon diz tão bem, ainda acarretam preconceito e falar do assunto é tabu, daí ele afirmar que “a depressão é uma doença solitária”. Por medo, por desconhecimento, por indiferença, a depressão ainda não recebe a atenção e cuidados compatíveis com o impacto que provoca não só na vida dos doentes, mas na de todos ao redor dele e na própria sociedade, em termos, por exemplo, da produtividade, criatividade e participação laboral e social dos afetados.

A depressão estigmatiza e enche os doentes de culpa. Pessoas com depressão acumulam quantidades impensáveis para quem não sofre da doença de sofrimento psíquico justamente por tornarem-se incapazes de ser elas mesmas e de produzir como fariam se não estivessem doentes. 

Se enchem de tristeza ainda maior porque têm consciência do quanto suas famílias sofrem. E Solomon ilustra o quanto a doença é cruel ao trazer para o leitor de O demônio do meio-dia as inúmeras histórias de depressivos e de suas batalhas contra a doença incapacitante. Principalmente de mães depressivas que acabaram arrastando os filhos para esse mesmo poço, criando um ciclo difícil de quebrar.

Por outro lado, ele também faz um alerta para as famílias sobre a forma correta de acolher e amparar seus membros acometidos pelo problema. Segundo o autor, fingir que não está acontecendo nada, mantendo o demônio trancado no armário não faz com que ele desapareça ou diminui os estragos que é capaz de causar.

De forma bastante franca, o autor toca ainda no maior dos tabus dentro do espectro da depressão, o suicídio. E faz isso expondo a própria tentativa de se matar e contando as experiências de outros entrevistados. As histórias das pessoas entrevistadas pelo escritor, inclusive, são comoventes e dramáticas, mas o autor, até por viver a realidade da doença, não explora os dramas de suas fontes de forma banal, nem mesmo quando aborda a sombra do suicídio.

Andrew Solomon (Foto: Divulgação)

Ao contrário, ele dá voz a um grupo invisível e, em até certa medida, marginalizado e desumanizado por tratamentos que ao invés de buscar o modo peculiar como a doença mental se manifesta de pessoa para pessoa, homogeniza todos os pacientes em um amálgama sem contornos. 

Se o doente depressivo já é estigmatizado, o doente depressivo que tentou se matar representa quase uma mácula indesejada para uma sociedade que não admite a existência sequer das pequenas tristezas cotidianas, que dirá de um abismo que oferece a morte como solução final.

Considerado um dos melhores tratados sobre o tema não escritos por psiquiatras, O demônio do meio-dia deriva de artigos que Andrew Solomon escreveu ao longo da década de 1990 para a revista New Yorker. O livro foi finalista do Prêmio Pulitzer, em 2002, e também recebeu homenagens como a do National Book Award, em 2001. 

Todo esse reconhecimento, bastante merecido ressalte-se, não é nada comparado às histórias de gratidão – que chegam a ele por meio de cartas – que o autor compartilha no epílogo brasileiro. Com sua sinceridade profunda e a coragem de expor a própria vida, Andrew Solomon transformou seu reconhecido best-seller em uma pequena luz na escuridão que, se não tem a dádiva de oferecer cura, tem ao menos o consolo de ajudar os depressivos a apaziguar o monstro que os assombra…

Um trecho do livro:

“Essa triste reunião para compartilhar a dor era um momento singular de libertação para muitas pessoas presentes. Lembrei dos meus piores momentos, daqueles rostos ansiosos e inquiridores, do meu pai dizendo: ‘Está se sentindo melhor?’, e do quanto me sentia desapontado ao dizer: ‘Não, na verdade não”. Alguns amigos tinham sido ótimos, mas, com outros, senti a necessidade de ser mais cuidadoso. E de fazer piadas. ‘Adoraria vir, mas estou no meio de uma crise nervosa, será que não podemos combinar outra hora?’ É fácil guardar segredos sendo sincero num tom de voz irônico. Aquela sensação elementar no grupo de apoio – eu trouxe minha consciência hoje, e você? – dizia muita coisa e, quase sem perceber, comecei a relaxar naqueles momentos. Muito não pode ser dito durante a depressão, só pode ser intuído por aqueles que conhecem. ‘Se eu estivesse de muletas, eles não me pediriam para dançar’, disse uma mulher a respeito dos esforços incansáveis de sua família para que ela fosse se divertir. Há tanta dor no mundo, e a maioria das pessoas guarda as suas em segredo, rodando por vidas de agonia em cadeiras de rodas invisíveis, dentro de um gesso ortopédico invisível cobrindo todo o corpo. Nós apoiávamos uns aos outros com o que dizíamos. Certa noite, Sue, agoniada, as lágrimas escorrendo pelo rímel pesado, disse: ‘Preciso saber se algum de vocês já se sentiu assim e sobreviveu. Alguém me diga isso, vim até aqui para ouvi-lo, é verdade, por favor, digam-me que é’. Outra noite alguém disse: ‘Minha alma dói tanto; preciso ter contato com outras pessoas'”.

(O demônio do meio-dia – Uma anatomia da depressão, Andrew Solomon, Companhia das Letras, 2014, pág. 155).

Ficha Técnica:

O demônio do meio-dia – uma anatomia da depressão

Autor: Andrew Solomon

Tradução: Myriam Campello

Editora: Companhia das Letras

584 páginas

*R$ 29,90 (e-book) e a partir de 64,90 (livro em papel, capa comum)

*Pesquisado em 30/07/2019 na Amazon

 

*Texto originalmente publicado no Mar de Histórias e na rede de bibliófilos Skoob.

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O Último Tiro (Lee Child) – Resenha do livro

O Último Tiro - Lee Child | foto: conversa de meninaUm massacre acontece em uma rua movimentada de Indiana. Seis tiros e cinco mortos. Todas as evidências apontam para o mesmo suspeito: James Barr, veterano da guerra, que alega inocência. As provas são tão consistentes, que nem o advogado de defesa acredita na versão de Barr.

Ele sabe que apenas uma pessoa é capaz de ajudá-lo e faz um pelo para encontrarem Jack Reacher, o herói dos livros de Lee Child. A partir daí, desenrola-se uma história bastante criativa, recheada de muito suspense e aventura, até o enlace interessante.

Confesso que as primeiras páginas do livro, que narram o percurso do assassino até o local de onde vai efetuar os disparos, não me cativou. O trecho tem um ritmo mais lento, diria até monótono. Cheguei a achar que o livro não conseguiria prender minha atenção, contrariando toda a expectativa que tinha a respeito de Lee Child, uma vez que o livro Dinheiro Sujo havia me deixado muito boas impressões (leia resenha de Dinheiro Sujo aqui).

Mas passados estes parágrafos iniciais, a narrativa ganha uma nova cadência, e você não consegue se separar do livro até chegar ao fim.

O Último Tiro (Lee Child) - Resenha do livro | foto: conversa de meninaA linguagem é simples, frases curtas e diretas, sem rodeios, com narrativa em terceira pessoa. O personagem principal, Jack Reacher tem um toque arrogante, mas sem ser repulsivo. Pelo contrário, ele nos conquista. A forma como vai juntando os indícios e desvendando a trama é bem envolvente.

A ação é constante, você consegue reproduzir mentalmente cada cena. Lançado inicialmente como “Um Tiro”, o livro ganhou capa nova e novo título após se transformar em filme. Um ótimo livro para os amantes do estilo.

Ficha Técnica
O Último Tiro (o livro também pode ser encontrado com o título Um Tiro)
Autor: Lee Child
Páginas: 406
Editora: Bertrand Brasil
Média de valor: na internet é possível achar entre R$ 42 e R$ 62, é bom pesquisar antes de comprar.

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Livro Férias (Marian Keyes) – Resenha

Livro Férias (Marian Keyes) | foto: conversa de meninaO livro Férias conta a história de Rachel Walsh, uma irlandesa de 27 anos, toxicômana, que divide apartamento em Nova York com sua amiga Brigit. Namorando Luke Costello e sua calça de couro justa, Rachel leva uma vida desregrada, à base de álcool, cocaína, valium e todo tipo de drogas que se tenha notícia. Sua vida vira de pernas para o ar após uma overdose. Brigit encontra a amiga desacordada, um suposto bilhete suicida e mobiliza a família de Rachel na tentativa de “salvá-la”. Rachel é internada em uma clínica de reabilitação chamada Claustro, na Irlanda, onde passa a conviver com outros viciados e com seus próprios medos e julgamentos.

A narrativa tem uma linguagem leve e coloquial, muito bem estruturada. Os capítulos do livro vão intercalando os momentos da vida de Rachel: sua infância, a vida no centro de reabilitação, as lembranças de Nova York. Aos poucos o leitor vai construindo a imagem de quem é verdadeiramente aquela jovem irlandesa. Apesar das 560 páginas, a leitura é viciante, fica difícil desgrudar do livro até conhecer o seu desfecho. A história é contada em primeira pessoa, o leitor vai acompanhando todo o dlivro férias (marian keyes) | foto: conversa de meninarama, alegrias e tristezas vividas pela personagem. E, o que é bem cativante em um livro, é possível configurar mentalmente cada cena, cada ambientação, de tão bem que a história é contada.

O livro tem passagens bem engraçadas, especialmente quando Rachel expõe seus pensamentos, sua versão das histórias. Um dos pontos interessantes de Férias é que, mesmo escrito de uma maneira divertida, consegue abordar a problemática do vício com cautela e seriedade. Enquanto em alguns momentos o leitor simplesmente gargalha sem culpa, em outros leva um bom sacolejo, provocado a refletir os efeitos do vício, como ele age no indivíduo e o que pode levar alguém a entregar-se aos vícios. Há trechos bem reflexivos neste sentido. Claro que a proposta não é virar um livro de autoajuda! Mas desperta, sim, uma série de ponderações em seu leitor.

Por outro lado, o livro fica cansativo em algumas passagens. Páginas que se seguem sem muita emoção ou sentido, como se para preencher espaço. Eu cortaria umas cem páginas, sem que fizesse qualquer diferença no desenrolar da trama. A autora, Marian Keyes, é um sucesso de vendas do gênero chick lit, acumulando diversos best-sellers na categoria. No mais, seu livro Férias traz uma personagem principal convincente e real, com uma história de vida cheia de dramas e comédias, além de arrancar bons risos e ponderações.

 

Ficha técnica:
Férias
Autor: Marian Keyes
Páginas: 560
Editora: Bertrand Brasil
Média de valor: o preço na internet varia bastante, achei o livro entre R$ 25 e R$ 65. Vale a pena pesquisar antes de comprar.

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Os Gatos de Gorete – Resenha do livro

Os Gatos de Gorete | foto: conversa de menina

Um homem é deixado em um orfanato e adotado por uma mulher. Já adulto e cheio de questionamentos pessoais, decide ir em busca de seu passado. Concursado da Prefeitura, com um trabalho monótono no departamento de achados e perdidos de documentos, Gustavo está insatisfeito com sua vida pessoal e profissional e cheio de dúvidas a respeito de sua verdadeira história. O que teria acontecido a sua mãe e seu irmão?

A inquietude o faz tomar uma importante e drástica decisão: pedir licença de seu estável emprego, comprar uma moto e encarar a estrada rumo ao Uruguai em busca de sua família biológica. A partir de algumas poucas informações conseguidas no orfanato em que foi deixado, já que sua mãe adotiva já é falecida, ele decide deixar a Bahia e refazer todo o percurso que sua mãe teria enfrentado há cerca de 25 anos, para tentar encontrá-la.

A narrativa de os Gatos de Gorete, do promotor baiano Maurício Cerqueira Lima, é praticamente toda na estrada, Gustavo vivenciando uma série de experiência sobre duas rodas, encontrando e desencontrando pessoas, encontrando e desencontrando a si mesmo. os gatos de gorete | foto: conversa de meninaO livro é bem estruturado, com uma linguagem simples de ser compreendida e amarrado o suficiente, para que você consiga terminar a leitura no que chamamos de “uma sentada”. Durante todo o tempo, vamos nos perguntando o que vai acontecer ao final e se Gustavo vai conseguir finalmente se bater de frente com sua história.

O livro promove ainda diversas reflexões sobre assuntos que norteiam o nosso dia a dia, como o tempo, Deus, o autoconhecimento. Em um diálogo bem interessante entre Gustavo e um andarilho, somos convidados a uma “viagem” paralela à do personagem, em que estes temas acabam sendo colocados à prova. O desfecho do livro também é bem interessante. No final de que, em qualquer busca que nos empenhemos a fazer, nós nunca saberemos o que efetivamente vamos encontrar. E o que é a vida, afinal?

Ficha técnica:
Os Gatos de Gorete
Autor: Maurício Cerqueira Lima
Páginas: 146
Editora: Baraúna
Média de valor: R$ 38,00

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Depois do Funeral – Resenha do livro

livro depois do funeral | foto: conversa de meninaA escritora Agatha Christie dispensa comentários e apresentações. É uma das autoras mais publicadas em todo o mundo. No currículo estão 63 livros, 163 contos, sem contar as inúmeras peças, poemas etc. Seus livros trazem narrativas policiais sempre muito bem amarradas e envolventes, cercadas de mirabolantes mistérios, rumos sinuosos e finais surpreendentes. Com a publicação Depois do Funeral não é diferente.

Durante a leitura do testamento do Sr. Richard Abernethie, a irmã do falecido milionário, Cora, deixa todos os familiares presentes atônitos ao levantar a hipótese de que ele teria sido assassinado. Uma semana depois, ela é assassinada em sua casa, de forma bastante violenta. É a gota d´água para que o Sr. Entwhistle, advogado do Sr. Richard, resolva contactar seu velho amigo Hercule Poirot, o famoso investigador belga dos livros da rainha do suspense policial.

A narrativa é envolvente e muito bem destrinchada, cheia de detalhes minuciosos que confundem a cabeça do leitor até seu desfecho. Durante a leitura, todos os personagens se mostram potenciais culpados, o que é marca registrada das histórias da autora. O relato é tão sedutor que torna a leitura ágil e de fácil digestão. Atiça a curiosidade de tal forma, que você simplesmente não consegue parar de ler.

livro depois do funeral | foto: conversa de meninaA construção da ambientação também é maravilhosa. A sensação é de estar ali, na antiga Inglaterra, com todo seu charme histórico. Os personagens são deliciosamente bem caracterizados, cheios de particularidades, pormenores. E neste livro, eles são muitos! Por isso é fundamental ficar atento a quem é quem, o que vai permitir a fluidez da leitura.

É um livro curto, ótimo para quem está em busca de um romance policial sedutor. E para quem nunca leu Agatha Christie, mas é fã do gênero literário, se prepare. Este será o primeiro, mas certamente não o último de sua coleção!

Ficha técnica:
Depois do Funeral
Autor: Agatha Christie
Páginas: 282
Editora: L&PM Pocket
Média de valor: R$ 17,00

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Resenha do livro Curimatê – Um Ensaio Sobre a Tolerância

Curimatê - Um ensaio sobre a tolerância | foto: conversa de meninaA tolerância é uma questão de debate ético que ganha destaque na modernidade. Não cansamos de assistir frente às nossas TVs às demonstrações grosseiras e reticentes de intolerância. Andamos inflexíveis e intransigentes. Não aceitamos as diferenças e não nos esforçamos para enfrentá-las com compreensão e respeito. E é sobre este tema que versa o livro “Curimatê – Um ensaio sobre a tolerância”, do promotor público baiano, Maurício Cerqueira Lima.

Ambientada em meados do século XVI, onde hoje está localizado o Chile e a Argentina, a ficção é inspirada na história da tribo Mapuche, submetida à escravidão pelos colonizadores.  O índio da tribo que dá nome à publicação, Curimatê, é capturado pelos colonizadores, aprende suas técnicas de combate e após conseguir fugir torna-se líder de sua tribo no embate contra os invasores. Uma série de situações vão se desenrolando ao longo da leitura, promovendo no leitor um intenso processo de reflexão a respeito de como andamos lidando com o outro e suas diferenças.

A história, com um ritmo de narrativa bastante envolvente, traz à tona uma série de questionamentos a respeito de como nos posicionamos frente ao diferente. O tempo inteiro é possível fazermos referência ao que temos vivenciado no dia a dia, seja no campo da religião, partidarismo, gêneros e raças. E isso só para exemplificar. Estamos deixando-nos dominar pelo individualismo exacerbado, pela falta de compaixão. Triste realidade.

curimatê - um ensaio sobre a tolerânciaVale a pena dar uma lida no livro e repensar a forma como estamos nos colocando diante do mundo, da natureza, do outro. O tema é muito bem explorado no livro, de uma maneira bastante incisiva e clara. É óbvio que é possível fazer diferente, é óbvio que há outro caminho. Uma leitura gostosa e reflexiva que nos dá a certeza de que é sempre tempo para mudar. 

FICHA TÉCNICA
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Curimatê – Um ensaio sobre a tolerância
Autor : Maurício Cerqueira Lima
Editora: Baraúna
Páginas: 180

Para comprar, clique aqui.

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Resenha: Dinheiro Sujo (Lee Child)

1Hoje nós vamos passear pela literatura, vou contar a vocês minhas impressões sobre Dinheiro Sujo, de Lee Child. O livro apresenta uma trama recheada de romance, aventura, falsificação de dinheiro e mortes mirabolantes. O personagem principal, Jack Reacher, é um ex-policial militar que vai parar na pequena cidade de Margrave e acaba preso, acusado por um crime. A partir daí, um thriler bem interessante se desenvolve, com uma história bem amarrada e, embora previsível em algumas passagens, consegue prender a atenção do leitor.

Li muitos comentários sobre o livro, todos muito elogiosos. Realmente, a narrativa do autor é bem bacana. A história também tem um cunho informativo que atiça a curiosidade sobre os processos de falsificação de dinheiro. No entanto, achei o livro por demais longo. Em algumas passagens, me senti sendo enrolada, entendem? Do tipo: “vamos aumentar o texto”. Para mim, o livro se resolveria em pouco mais que a metade das páginas.

Algumas de vocês dirão que devo ser excessivamente objetiva ou tenho preguiça de ler. Nenhuma das duas alternativas. Adoro ler, já li livros enormes. Mas acho que o tamanho, por si só, não diz muita coisa, nem significa que porque é longo, é bom. Cada história tem seu tamanho necessário de ser contada e, neste ponto, achei Dinheiro Sujo com páginas que sobram, poderiam ser facilmente extirpadas.

Mas nada que desbote o prazer de ler a história. Super indico, meninas, para quem está a fim de se divertir em uma aventura.

Ficha técnica:
Dinheiro Sujo
Autor: Lee Child
Páginas: 472
Editora: Bertrand Brasil
Média de valor: R$ 40,00

 

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Série Miniensaios de Filosofia: Amor, Existência e Morte; Desejo, Vontade e Racionalidade; Ética, Medo e Esperança

Série Miniensaios de Filosofia: Amor, Existência e Morte; Desejo, Vontade e Racionalidade; Ética, Medo e EsperançaA filosofia é a arte do conhecimento, por meio do estudo dos temas relacionados à existência humana. No fundo, no fundo, todos nós temos um pouco de filósofos, buscamos entender os problemas fundamentais da vida e criamos nossos próprios conceitos e soluções para o que vivemos. Para despertar o desejo de promover estas reflexões, a Editora Vozes lançou no mercado a série Miniensaios de Filosofia. São três livretos, estilo pocket, super prático para carregar na bolsa: Amor, Existência e Morte; Desejo, Vontade e Racionalidade; Ética, Medo e Esperança.

Recebi os três livros da editora e aproveitei o final de semana para lê-los e contar para vocês. A proposta dos livros é trazer pílulas filosóficas sobre os temas indicados nos títulos. Cada livreto traz 33 ensaios, bem curtinhos, com no máximo 1400 letras cada ensaio, em formato de reflexão e com texto literário, para despertar a curiosidade do leitor e estimulá-lo a pensar sobre os assuntos e, quem sabe, se interessar pela filosofia.

A linguagem dos textos é super simples e cotidiana. Cada ensaio traz um direcionamento do tema proposto. Claro que ali não há verdades absolutas, mas apenas divagações, propostas de reflexão. Tampouco o tema se esgota em cada ensaio, porque para a filosofia não há quantidade de caracteres ou linhas, há infinitas possibilidades. A partir da leitura, o próprio leitor vai construindo sua releitura, concordando ou discordando, se permitindo filosofar junto, questionar, dar um novo significado e criar seu próprio conceito.

Uma coisa bacana é que como são ensaios, você não precisa seguir a ordem de leitura normal de um livro. É possível pular, adiantar, voltar, sem que isso comprometa a leitura. O próprio livro traz indicações de ensaios correlatos, possibilitando que o leitor faça a sua ordem de leitura, por meio da conexão dos temas. O que poso dizer é que esta seria uma introdução à filosofia, uma maneira de o leitor se familiarizar com os temas e a possibilidade de desenvolver o gosto pela matéria, para pular para os autores clássicos. A leitura é bem gostosa, de fácil assimilação e realmente é um pontapé para nos fazer refletir sobre uma série de questões que permeiam o nosso dia a dia.

Ficha técnica
Miniensaios de Filosofia
Autores: Flávio Tonnetti e Arthur Meucci
Editora: Vozes
Páginas: 80 por edição
Preço: R$ 9,50 (cada)

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Médica conta como é chegar aos 40 no livro Memórias de uma Envelhescente

Memórias de uma EnvelhescenteCada ser humano lida com a idade de uma maneira diferente. Há quem não se importe com o passar dos anos, há quem sinta aflição ao pensar na velhice e há quem aprecie a beleza das rugas e pés de galinha no rosto.

Mas o fato é que todos nós envelhecemos um pouco diariamente e temos de lidar – querendo ou não – com as dores e amores que chegam junto com a velhice. O auge da maturidade vem carregado de muita sabedoria, mas algumas vezes também traz consigo limitações físicas e até intelectuais.

No livro “Memórias de uma Envelhescente”, a médica Judith Nogueira narra a sua experiência ao chegar aos 40 anos, etapa da vida que traz marcas bem expressivas, como a saliência das rugas e a maturidade. O texto traz reflexões sobre o assunto e relatos autobiográficos e conta como a autora lidou com essa fase de transição na vida da mulher, tanto psicologicamente como fisicamente.

Claro que não é nenhum manual de como lidar com a chegada aos 40 anos, mas uma leitura com uma linguagem simples de alguém que chegou lá e da forma como administrou as dúvidas e questionamentos inerentes à idade.

Ficha técnica:
Memórias de uma Envelhescente
Autora: Judith Nogueira
Páginas: 144
Editora Regência
Preço: R$ 24,90

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Apontamentos sobre o livro Antígona

Honra, lealdade, justiça. Sentimentos nobres. E tenho visto o quão carente está nossa sociedade de atitudes pautadas nestas curtas, porém significativas palavras. Antígona fez aflorar em mim questionamentos sobre a importância de cultivarmos estas sementinhas. O livro, resultado de uma peça escrita por Sófocles, traz a luta de Antígona para dar ao irmão Polinice um sepultamento digno, depois que o rei Creonte -seu tio- proclamou pela cidade a ordem de deixá-lo insepulto, sem homenagens fúnebres, por tê-lo considerado um traidor.

Revoltada com a decisão do rei e disposta a cumprir o que considerava um dever – o de permitir que seu irmão fosse enterrado -, ela tenta ganhar o apoio da irmã, Ismênia. Submissa às leis da terra, no entanto, Ismênia aceita o destino imposto ao irmão, por medo das conseqüências da decisão de desobedecer às ordens superiores. Ela viu os pais morrer, um irmão matar o outro pelo trono do pai e, naquele momento, temia a terrível morte que caberia às duas se contrariassem a vontade do rei. Mas Antígona decide, mesmo sozinha, levar adiante seu plano, e o livro narra a sua saga.

A peça foi encenada pela primeira vez em 441 a.C. E é fácil identificar o contexto histórico inserido naquelas passagens. Grécia, período em que nasciam as cidades (pólis), os indivíduos começam a exigir seus direitos. O livro fala em exercício de cidadania, em democracia, em direitos, em luta pelo que é justo (não no sentido jurídico reducionista do termo), em enfrentar, na importância da luta, de não se deixar curvar diante das aberrações, de se permitir contrariar, desafiar, de ser leal a princípios e de morrer por um ideal que vale a pena.

Antígona fala do hoje, fala de valores que se dissiparam em nossa sociedade. Embora escrito há séculos, traz princípios que deveriam nortear nossas condutas a todo o tempo. Mas que acabamos deixando de lado por razões infinitas. Os diálogos narrados na peça me fizeram repensar nossos papéis de juízes. Em quantas vezes vestimos nossas togas e disparamos sentenças para todos os lados. Pra mim, ali está um material farto sobre sociologia jurídica. Um texto curto, fácil de ler, e que pode suscitar debates sobre a dicotomia jurídica do “ser” e do “dever ser”.

>> Baixe a íntegra do livro, em pdf.

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